Qatar estuda a hipótese de alojar adeptos do Mundial 2022 em tendas beduínas

A ideia está a ser trabalhada pelo comité organizador da competição. Quebra do preço do petróleo obrigou a analisar alternativas de alojamento

Foto
A atribuição do Mundial 2022 ao Qatar tem envolvido muita polémica FADI AL-ASSAAD/Reuters

O Qatar pode vir a alojar milhares de adeptos de futebol durante o Mundial 2022 em tendas beduínas instaladas em descampados localizados próximos dos estádios como forma de contornar a diminuição dos recursos financeiros para a construção de hotéis originada pela baixa do preço do petróleo.

A maior parte dos 500 mil adeptos esperados naquele pequeno estado do Golfo Pérsico durante o período em que durar o Mundial de futebol de 2022 ficará alojada em quartos de hotel ou apartamentos mas, ao contrário do que foi prometido na candidatura apresentada à FIFA em 2010, onde se prometia a criação de mais de 55 mil quartos, o que está previsto neste momento é a construção de “apenas” 46 mil – muito longe dos 60 mil solicitados pelo organismo que gere o futebol mundial.

O comité organizador do Campeonato do Mundo 2022 olha para a ideia das tendas como uma forma criativa e culturalmente autêntica de ir de encontro às exigências da FIFA. “Esta candidatura tem como compromisso mostrar a forma hospitaleira de receber no Médio Oriente. Nessa medida, estamos activamente a trabalhar num conceito em que os adeptos dormem debaixo das estrelas”, declarou à agência de notícias Reuters um porta-voz do comité organizador do Mundial 2022, sem dar mais detalhes.

Desde que ganhou a organização do Campeonato do Mundo o Qatar já gastou milhões de dólares na melhoria de infra-estruturas e construiu complexos de hotéis e apartamentos. No entanto, alguns investimentos foram, entretanto, travados. Uma ponte e um túnel submarino que atravessariam a baía de Doha e, pelo menos dois hotéis a serem construídos na capital, no valor global de 12 mil milhões de dólares, são disso exemplo.

O porta-voz do comité organizador adiantou que o Qatar iria disponibilizar apenas o número mínimo de quartos de hotel exigidos pela FIFA. Acampar no deserto é uma actividade muito popular entre os qataris, conhecidos pelos luxuosos acampamentos que montam nas dunas de areia, e poderia ajudar a desvanecer as preocupações em torno da reduzida ocupação que os alojamentos que estão a ser construídos para o Mundial terão depois da conclusão da competição. Previsto está também o alojamento de adeptos em navios de cruzeiro fundeados em docas junto à costa.

O comité organizador não especificou se os acampamentos agora previstos seriam também utilizados como "fanzones”, locais onde as autoridades muçulmanas do Qatar disseram que os adeptos poderiam consumir álcool. O consumo público de álcool é proibido no emirado árabe, que também limita a venda de bebidas alcoólicas aos hotéis de luxo.

Alguns qataris são críticos com a forma como o Mundial de futebol está a influenciar a indústria da construção civil no país. “Nos últimos cinco anos, o número de quartos de hotel duplicou e agora estão a duplica-lo novamente”, disse à Reuters um antigo diplomata do emirado. “As pessoas interrogam-se – ‘como é isto sustentável?’ Quando o Mundial terminar o que é que nós vamos fazer com estes hotéis?”