Insulto aos homossexuais pode levar Manny Pacquiao ao tapete

Frase polémica do famoso pugilista e candidato ao Senado nas Filipinas levou-o a perder o patrocínio da Nike. E uma fatia do apoio da nação.

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Tyrone Siu/Reuters

Manny Pacquiao nunca teve grandes dificuldades em arregimentar seguidores sempre que calçava as luvas e subia ao ringue, mas a sua popularidade nas Filipinas poderá não ser suficiente para sair incólume da polémica que recentemente desencadeou. Bastaram cinco palavras para incendiar a opinião pública: "Eles são piores que animais". O multicampeão do pugilismo referia-se aos homossexuais e a referência fez tamanho ricochete que as consequências continuam a chegar. A mais recente implicou um virar de costas da Nike.

A frase que está a provocar mais impacto que os uppercuts que Pacquiao costuma desferir foi a seguinte, transcrita na íntegra a partir de um vídeo divulgado por uma cadeia de televisão filipina: "É o senso comum. Vêem animais a acasalarem com outros do mesmo sexo? Os animais são melhores porque conseguem distinguir masculino e feminino. Se os homens se relacionam com homens e mulheres com mulheres, eles são piores que animais".

Poderíamos estar a falar apenas de um desportista consagrado, que gosta de espevitar os ânimos com controvérsia gratuita, como muitos outros, mas o caso de Manny Pacquiao é distinto. A caminho do final de uma gloriosa carreira de pugilista (o último combate, confirmado pelo próprio, está marcado para 9 de Abril, com o norte-americano Timothy Bradley), há muito que alargou os horizontes - e as incursões pelos universos da música, do cinema e da política estão aí para o atestar.

Acontece que Pacquiao, aos 37 anos, decidiu aprofundar o seu currículo político e tentar um voo mais alto. Membro da Casa dos Representantes desde 2010, anunciou no final do ano passado que irá candidatar-se ao cargo de senador. E é nesse contexto que esta afirmação, pela qual já se penitenciou, ganha relevância acrescida.

"Peço desculpa por ter magoado as pessoas, ao comparar homossexuais com animais. Vou manter a minha convicção de que sou contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo, mas não estou a condenar os LGBT [Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgénero]. Amo-vos a todos com o amor do Senhor. Que Deus os abençoe a todos", reagiu, através do Facebook, já depois da condenação violenta feita por algumas ilustres figuras do país, como a cantora Aiza Seguerra ou o comediante Vice Ganda.

A reprovação estendeu-se, de resto, a outras esferas, uma das quais tem impacto directo na vida de Pacquiao. A Nike, que patrocinava o pugilista desde 2006, já anunciou o fim do contrato. "Consideramos que os comentários de Manny Pacquiao são detestáveis. A Nike opõe-se fortemente à discriminação e tem uma longa história de apoio à comunidade LGBT. Não temos mais nenhuma relação com Manny Pacquiao", referiu a empresa, em comunicado.


E este pode não ser, sequer, o fim de uma história que seguramente fragilizará as ambições de Pacquiao e do partido que o apoia (United Nationalist Alliance) na corrida por uma nova posição nos círculos do poder político. Até porque não têm faltado comentários nas redes sociais a antecipar um sentido de voto: "Apenas nos mostrou por que razão não devemos votar nele", ripostou Seguerra. 

 

 

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