Chegou o dia em que pagamos para respirar

Ar engarrafado? Existe e há quem pague bem por ele.

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O centro de Hong Kong, onde o empresário inglês Leo De Watts instalou a base chinesa do seu negócio de venda de ar engarrafado. Bobby Yip/Reuters

Se há bem que estamos habituados a consumir sem pagar é o ar. E, no entanto, morreríamos rapidamente se nos víssemos privados deste. A gratuitidade do ar é fácil de explicar: apesar de ser essencial, a oferta excede a procura como nenhum outro bem.

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Se há bem que estamos habituados a consumir sem pagar é o ar. E, no entanto, morreríamos rapidamente se nos víssemos privados deste. A gratuitidade do ar é fácil de explicar: apesar de ser essencial, a oferta excede a procura como nenhum outro bem.

Mas agora imagine que o ar puro era um bem escasso. Ou melhor, vá a uma grande cidade chinesa. Em Dezembro de 2015, a capital Pequim accionou pela primeira vez na sua história um alerta vermelho de poluição ao registar valores de contaminação 15 vezes superiores ao nível máximo recomendado. Um mês antes, em Liaoning, no Nordeste da China, foi detectada uma concentração de partículas nocivas no ar 56 vezes superior aos valores recomendados pela Organização Mundial de Saúde.

Os graves problemas de poluição atmosférica na China, associados sobretudo à dependência da indústria em relação ao carvão, são responsáveis por uma epidemia de doenças respiratórias, incluindo o cancro. Em Dezembro, o Daily Dot citava a organização não-governamental californiana Berkley Earth, que tem desenvolvido um trabalho de monitorização permanente da qualidade do ar na China, e indicava que todos os dias morrem cerca de 4.000 pessoas no gigante asiático por causas relacionadas com a poluição. O director científico da organização, Richard Muller, ilustrava o problema nos seguintes termos: respirar em Pequim é tão nocivo como fumar um cigarro e meio por hora.

Enquanto a China tenta resolver lentamente os seus problemas ambientais, a escassez de ar puro torna-se numa oportunidade de negócio para quem o tem para dar e vender. Esta segunda-feira, a CNN conta a história de um jovem empresário britânico que está a exportar frascos de ar para a China. E é um produto gourmet: cada frasco com 580 mililitros de ar recolhido no País de Gales ou no Sudoeste inglês custa cerca de 100 euros.

“Frequentemente, as nossas encomendas são feitas à medida. Temos clientes que exigem circunstâncias muito particulares para o seu ar. (…) Às vezes vamos ao topo de uma montanha, outras vezes vamos ao fundo de um vale”, explica Leo De Watts, 27 anos, responsável pela Aethaer.

Instalado em Hong Kong há algumas semanas, De Watts afirma ter vendido já algumas centenas de frascos e tem neste momento no mercado um produto alusivo ao Ano Novo chinês que custa 1075 euros.

O empresário inglês não é o primeiro a aventurar-se na indústria do ar. Em Dezembro, o Washington Post escrevia sobre a canadiana Vitality Air, que também tem estado a exportar para a China cilindros de ar das montanhas do estado de Alberta.

 

 

Operando através da internet, a empresa afirma ter um número crescente de clientes noutro país asiático gravemente afectado pela poluição atmosférica: a Índia. Durante o Natal, e com a activação de sistemas de aquecimento assentes na queima de carvão, Nova Deli registou índices de contaminação ainda mais elevados que os assinalados em Pequim.