Pequim entra pela primeira vez em alerta vermelho de poluição

A poluição do ar é mais de quinze vezes superior ao nível máximo recomendado. Governo recomenda o fecho de escolas, proibe a circulação de metade dos carros e actividades ao ar livre.

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O manto escuro, pesado e húmido de ar contaminado que se abateu há vários dias sobre Pequim fez com que o Governo chinês anunciasse na noite de segunda-feira um “alerta vermelho” de poluição, o primeiro na história da capital do país mais poluente do mundo. O alerta vai durar até ao meio-dia de quinta-feira, altura em que se espera que uma frente de ar frio dissipe parte do ar poluído na cidade.  

Até lá, só metade dos carros em Pequim podem circular – matrículas que acabem em números ímpar um dia, números par no outro –, o Governo recomenda o fecho das escolas sem bons sistemas de filtração de ar, limita o tempo de trabalho em locais de construção ao ar livre, as empresas devem dar horários mais flexíveis aos seus trabalhadores e todas as “grandes actividades ao ar livre” estão proibidas.

“Mesmo quando estou com a máscara sinto-me desconfortável e não tenho energia nenhuma”, disse Li Huiwen, residente em Pequim, à Associated Press. “Tem que se fazer o que se pode para nos protegermos.” O enviado da Al-Jazira na capital chinesa, Adrian Brown, complementa: “Consegue ver-se a poluição, consegue sentir-se-lhe o sabor.”

O método mais convencional para se chegar ao risco de saúde de uma dada poluição atmosférica faz-se pela medição de Partículas de Matéria 2.5 (PM2.5). Entre outros elementos, estas minúsculas partículas – 0,0025 milímetros, daí o seu nome – contêm vestígios de metais, combustão e compostos orgânicos suficientemente pequenos para entrarem no sistema respiratório ou circulação sanguínea. A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda um máximo de 25 microgramas de PM2.5 por metro cúbico para que o ar seja considerado saudável.

Às 19h desta terça-feira, hora local de Pequim, o sistema de medição da poluição atmosférica da embaixada dos Estados Unidos registava 379 microgramas de PM2.5 por metro cúbico. Mais de quinze vezes superior ao nível máximo. Um valor considerado “perigoso”, o quinto e mais grave patamar de risco de saúde na escala de poluição atmosférica. Algumas zonas da cidade chegavam aos 400 microgramas de PM2.5.

Mesmo assim, não é nada que se compare aos níveis de poluição de há uma semana, quando os níveis de poluição do ar em Pequim estavam a 40 vezes o máximo recomendado pela OMS – mais de 1000 microgramas de PM2.5 por metro cúbico de ar. Mas o Governo não decretou então o alerta vermelho para a capital, ou em ocasiões semelhantes nos últimos meses. A decisão de não o fazer foi recebida com alguns protestos, o que terá dado lugar ao alerta desta semana, como explica o correspondente da BBC em Pequim, John Sudworth.

“Porquê o vermelho agora? A falta de alertas vermelhos anteriores foi recebida com manifestações de protesto cada vez maiores. O que é que seria necessário, perguntavam as pessoas na semana passada, à medida que os seus filhos tentavam encontrar o caminho através da semiobscuridade em direcção às escolas ainda abertas, para o Governo agir?”

A decisão do Governo chinês em emitir um alerta vermelho para Pequim foi bem recebida por organizações ambientais e de protecção da saúde. “É um sinal bem-vindo de uma atitude diferente por parte do Governo de Pequim”, escreveu a Greenpeace em comunicado. “Significa, primeiro e acima de tudo, que as autoridades estão a encarar com muita seriedade os temas da qualidade do ar”, anunciou a OMS.

Mais de metade das medições à qualidade do ar em Pequim feitas pela embaixada dos Estados Unidos entre 2008 e 2015 indicam níveis “prejudiciais” ou “muito prejudicais” à saúde. A qualidade do ar na capital chinesa tem melhorado ligeiramente nos últimos meses, mas as ocasiões em que as medições de PM2.5 são consideradas aceitáveis acontecem ainda em menos de 5% das análises norte-americanas.

A principal fonte de energia na China é ainda o carvão (mais de 60%, segundo os números da BBC), apesar do grande investimento em fontes renováveis de energia dos últimos anos. O ar estanque e contaminado que se sente em Pequim é sobretudo provocado pelas fábricas utilizadoras de carvão na sua periferia, poeira dos locais de construção e as grandes emissões poluentes dos veículos.

A poluição do ar na cidade agravou-se nos últimos dias pela falta de vento e grande humidade. A geografia da cidade não ajuda: as montanhas a Norte e a Oeste aprisionam a poluição que vem das cidades industriais a Sul e Sudeste.  

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