Geórgia

Ganhar um marido, perder a adolescência

Em algumas regiões da Geórgia é comum as raparigas deixarem a escola para se casar. Têm entre 12 e 17 anos e conhecem o futuro marido pouco antes do casamento, combinado pela família sem o seu consentimento.

A noiva mostra o seu vestido às colegas da escola Daro Sulakauri
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A noiva mostra o seu vestido às colegas da escola Daro Sulakauri

Uma rapariga de vestido branco dança em frente à sua casa. As lágrimas escorrem-lhe pelo rosto, enquanto se despede da sua família e do sítio onde cresceu. Tem 17 anos e prepara-se para ir para o seu casamento, onde irá encontrar o seu futuro marido, que conheceu semanas antes, no dia do noivado. A partir daí, já não irá continuar a estudar.

A fotógrafa Daro Sulakauri foi convidada para este casamento quando passava pela aldeia Cachétia, na Geórgia, país onde nasceu. Não só fotografou os noivos, como tentou falar com eles e perceber como é que eles se sentiam. Apesar de o casamento precoce ser uma situação que lhe era familiar na sua infância, começou a perceber que hoje em dia a tradição se mantém. “Lembro-me de ver as minhas colegas de escola a casarem-se quando eu tinha apenas 12 anos, mas isso já foi há muito tempo. Só quando comecei a fotografar é que percebi que ainda existem muitos casos de casamentos precoces”, conta Daro, em resposta por e-mail ao PÚBLICO. Em 2014, começou a série fotográfica Deprived of Adolescence, de modo a explorar os sentimentos da noiva e a sua posição face à situação. Mas nem sempre o trabalho corre bem. Não só os maridos ou futuros sogros das noivas não permitem que Daro tire fotografias à rapariga ou até fale com ela, como as próprias noivas mantêm uma postura acanhada, sorrindo e falando pouco. “Esta é uma das razões pelas quais estou neste projecto há mais de um ano. Às vezes demoro três a quatro meses apenas para encontrar alguém para fotografar.” De acordo com Daro, a Geórgia tem um dos níveis mais altos na Europa de casamentos precoces, correspondente a 17%. No ano académico de 2011/2012, aproximadamente sete mil raparigas com idades entre os 13 e 15 anos desistiram da escola. Apesar de o Governo não possuir informação sobre quais as razões para estes abandonos, um representante dos direitos humanos afirmou que 341 raparigas deixaram os estudos para se casar. Várias organizações tentaram que o Governo de Geórgia declarasse formalmente o casamento precoce como uma violação dos direitos humanos. Contudo, o Estado ainda não empreendeu nenhuma acção e a sociedade ou não sabe ou não se interessa pelo problema.

Grande parte destes casamentos são planeados pelos pais sem o consentimento da rapariga. “Depende da situação da família e do grupo étnico da rapariga. Em algumas aldeias, ela tem de casar logo após deixar a escola, caso contrário, é considerada velha para um futuro casamento”, diz Daro. Segundo a fotógrafa, falta educação no país. É muito difícil mudar tradições, e apesar de algumas não deverem ser alteradas, casar com 12 ou 17 anos deixa cada vez mais de ser uma tradição para ser uma consequência da mentalidade das pessoas. É preciso educar os mais velhos mas essencialmente os mais novos, para que estes possam ver e agir de forma diferente.

Sibila Lind

A noiva, de 17 anos, espera em casa pela chegada do noivo
A noiva, de 17 anos, espera em casa pela chegada do noivo Daro Sulakauri
Tamro, 14 anos, irmã da noiva
Tamro, 14 anos, irmã da noiva Daro Sulakauri
Mulheres no casamento
Mulheres no casamento Daro Sulakauri