Dezenas de mortos e feridos em ataque contra universidade no Paquistão

Atentado aconteceu a dezenas de quilómetros da cidade de Peshawar, onde em Dezembro de 2014 um comando taliban matou 133 crianças. Maioria das vítimas foi atingida por disparos na cabeça e no peito.

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Soldados no exterior da universidade atacada Fayaz Aziz/Reuters

O Paquistão volta a estar de luto pelos seus estudantes. Pouco mais de um ano depois do atentado que matou 132 crianças na Escola Pública do Exército de Peshawar, um ataque à Universidade de Bacha Khan, a 35 quilómetros de distância, fez pelo menos 30 mortos, a maioria estudantes, e deixou dezenas de feridos.

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O Paquistão volta a estar de luto pelos seus estudantes. Pouco mais de um ano depois do atentado que matou 132 crianças na Escola Pública do Exército de Peshawar, um ataque à Universidade de Bacha Khan, a 35 quilómetros de distância, fez pelo menos 30 mortos, a maioria estudantes, e deixou dezenas de feridos.

Segundo o Exército, quatro atacantes armados com AK-47 e granadas entraram no campus escalando o muro das traseiras. O forte nevoeiro impediu que tenham sido vistos pelos 50 guardas privados da universidade. O mesmo nevoeiro – que reduzia a visibilidade a menos de dez metros – terá impedido um número de vítimas maior, diz a polícia, já que os guardas conheciam melhor as instalações.

Muitos paquistaneses têm homenageado Syed Hamid Hussain, um jovem professor auxiliar de Química morto quando tentava defender os alunos. “Tínhamos saído mas fomos bloqueados pelo nosso professor de Química, que nos aconselhou a voltar para o interior", contou à AFP Zahoor Ahmed, estudante de Geologia. “Ele tinha uma pistola na mão e vi que uma bala o atingiu, havia dois assaltantes a dispararem por todos os lados”, disse Ahmed.

Syed Hamid Hussain não foi o único professor a disparar contra os atacantes: os professores no Nordeste do Paquistão têm autorização para andar armados desde o ataque de Peshawar, em Dezembro de 2014.

O assalto começou pelas 9h30 locais, quando algumas aulas já decorriam e outros estudantes ainda dormiam. Os dormitórios e a ala administrativa foram os primeiros alvos. “Eles entraram pelas traseiras e houve um grande caos”, descreveu um estudante ao canal paquistanês Geo TV a partir de uma cama no Hospital de Charsadda, a pequena cidade em cujos subúrbios se ergue a universidade. “Algumas pessoas esconderam-se nas casas de banho.”

Em Bacha Khan estudam 3000 alunos, mas havia ainda mais 600 convidados para um recital de poesia que deveria ter comemorado o aniversário da morte de Khan Abdul Ghaffar Khan, o activista pela independência do Paquistão que deu nome à universidade.

Ao final da manhã, o ministro da Saúde da província de Khyber Pakhtunkhwa, Shaukat Ali Yousafzai, afirmava que os mortos eram já 31, avisando que o número poderia subir. Pouco depois, um responsável pela segurança citado pela agência Reuters previa que os mortos chegassem aos 40.

Naseer, um estudante de 23 anos ouvido pela Associated Press, diz ter contado 50 corpos. “Os atacantes dispararam contra homens e mulheres indiscriminadamente. Eles dispararam directamente contra a cabeça dos estudantes”, afirmou.

De acordo com os médicos em Charsadda, os feridos em estado mais grave foram atingidos com disparos no peito e na cabeça; destes, 50 foram transferidos para o Hospital Lady Reading, em Peshawar, o maior na região, equipado para responder a ataques terroristas.

Ao contrário do que aconteceu com o atentado de Peshawar, contra uma escola frequentada por filhos de militares, claramente reivindicado pelo Movimento dos Taliban do Paquistão, permanecem as dúvidas sobre a autoria do atentado de Bacha Khan.

Sacrifícios incontáveis

"Os nossos quatro suicidas realizaram o ataque contra a universidade", disse por telefone à AFP Umar Mansoor, um comandante dos rebeldes taliban, que justificou o atentado como uma “resposta à operação Zarb-e-Azb”, ofensiva antiterrorista que o Exército desencadeou nas zonas fronteiriças com o Afeganistão. Mas pouco depois, o porta-voz dos taliban no país, Mohammad Khurasani, garantia que o movimento nada tinha a ver com o ataque, que classifica como “anti-islâmico”. Os taliban, diz Khurasani, “consideram os estudantes das instituições não militares o futuro no movimento da jihad”.

Desde o ataque em Peshawar que o Governo declarou guerra aos taliban e deu ao Exército amplos poderes e meios para tentar travar a ameaça terrorista, para além de ter reposto a pena de morte. Tudo indica que este atentado tenha sido da responsabilidade de uma facção dissidente.

As operações contínuas nas províncias junto à fronteira afegã, onde os rebeldes operam, permitiram reduzir o número de atentados ao longo de 2015, mas estes nunca pararam e começaram mesmo a aumentar nos últimos tempos.

Num comunicado, o primeiro-ministro, Nawaz Sharif, afirmou-se “profundamente entristecido com a perda de vidas preciosas”. Sharif estava em Zurique e apressou-se a regressar a casa, declarando que quinta-feira será dia de luto nacional. “Estamos determinados em fazer desaparecer a ameaça de terrorismo do nosso país”, acrescentou o chefe de Governo. “Os sacríficos incontáveis dos nossos cidadãos são serão em vão.”

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