Taliban matam mais de 140 pessoas, a maioria crianças e adolescentes, numa escola de Peshawar

Governo de Nawaz Sharif decretou três dias de luto nacional e prometeu "não descansar, enquanto o flagelo do terrorismo não for completamente eliminado".

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Mesmo num país habituado há anos a acordar com notícias de ataques sangrentos em mercados, mesquitas, igrejas e escolas, o massacre desta terça-feira na cidade paquistanesa de Peshawar foi particularmente chocante.

Seis combatentes do Movimento dos Taliban do Paquistão entraram pela manhã numa escola frequentada por filhos de militares, no Noroeste do país, e mataram mais de 140 pessoas, a maioria crianças e adolescentes entre os 12 e os 16 anos de idade. Muitos foram executados no principal auditório da escola, mas os sobreviventes dizem que os atacantes foram de sala em sala e abriram fogo contra alunos e professores.

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Para os taliban paquistaneses tratou-se de uma vingança; uma forma de “fazer sentir” aos militares que lhes fazem frente “o sofrimento de ver um ente querido morto”, disse o porta-voz do grupo, Muhammad Umar Khorasani, depois de revelada a dimensão do massacre. Antes, numa declaração às agências noticiosas internacionais, o mesmo responsável dissera que os seis combatentes taliban tinham “ordens específicas para não fazerem mal a menores”.

Para Hassan Askari Rizvi, professor de Ciência Política na Universidade Punjab, em Lahore, e especialista em questões militares, o ataque “sem precedentes” contra a escola de Peshawar “mostra que os terroristas estão mais fracos”, na sequência da operação lançada em Junho pelas Forças Armadas do país na região montanhosa do Waziristão do Norte, junto à fronteira com o Afeganistão.

“Agora estão a atacar alvos sem defesa”, disse Rizvi ao The Washington Post. “Este acto de terror horroroso mostra que os terroristas estão mais fracos após a operação militar, e é por isso que há menos ataques, apesar de continuarem a ter capacidade para atacarem alvos sem defesa.”

O ataque foi lançado por volta das 11h (5h em Portugal continental), e sete horas depois os militares paquistaneses ainda percorriam com cuidado as salas e os corredores da escola, com receio das armadilhas deixadas para trás pelos combatentes taliban. Todos eles – seis, segundo o porta-voz do grupo radical, armados e com explosivos colados ao corpo – foram mortos durante a operação das forças paquistanesas.

Números finais ainda mais trágicos
Mas a dimensão do rasto de sangue estava ainda por perceber na sua totalidade. O balanço a meio da tarde era ainda provisório, e as autoridades alertavam para a forte possibilidade de os números finais poderem vir a ser ainda mais trágicos: pelo menos 141 mortos, incluindo 132 crianças e adolescentes entre os 12 e os 16 anos, e entre duas e três centenas de feridos, disse Pervez Khattak, ministro da província de Khyber Pakhtunkhwa, de que Peshawar é a capital.

Um dos alunos do 9.º ano, identificado apenas como Kashan, descreveu ao jornal em língua inglesa The Express Tribune o que viu nos primeiros momentos do ataque: “Estávamos sentados no auditório e um coronel estava a dar uma palestra, quando ouvimos tiros. O som dos tiros começou a ficar cada vez mais próximo de nós. Subitamente a porta foi arrombada e duas pessoas começaram a disparar indiscriminadamente.”

Mudassar Abbas, um assistente do laboratório de Física da escola, disse ter visto “seis ou sete pessoas a percorrer as salas e a abrir fogo sobre as crianças”.

Um outro aluno, que o jornal com sede em Carachi não identifica, também disse que os atacantes atiraram de forma indiscriminada contra todos – estudantes, professores e outros funcionários. “Quando saímos da nossa sala, vimos os corpos de amigos no chão. Estavam a sangrar. Alguns foram atingidos três ou quatro vezes.”

Numa medida pouco habitual, o primeiro-ministro paquistanês, Nawaz Sharif, viajou para Peshawar, para coordenar pessoalmente a operação militar. “Estas crianças são as minhas crianças, o país está de luto e eu estou de luto”, declarou o chefe do Governo, descrevendo o massacre como “uma tragédia nacional provocada por selvagens”.

Para além de ter decretado luto nacional por três dias, Nawaz Sharif convocou para quarta-feira uma reunião com todos os partidos políticos, num apelo à união.

O líder do Movimento para a Justiça e principal rival político de Nawaz Sharif, Imran Khan, também se mostrou chocado com o ataque e garantiu que esteve sempre ao lado do primeiro-ministro na operação contra os taliban paquistaneses.

“Ninguém nos pode acusar de não estarmos com o Governo nesta luta contra os terroristas. Apoiámos sempre o Governo. Todos nós – nas províncias, no Governo federal e nas Forças Armadas – temos de chegar a acordo sobre a melhor forma de ganhar esta guerra contra os terroristas”, disse Khan.

Também a Prémio Nobel da Paz deste ano, Malala Yousufzai, reagiu ao massacre na escola de Peshawar, ela que foi atacada em 2012 pelos taliban paquistaneses: “Este acto de terror sem sentido e cometido a sangue-frio deixou-me com o coração partido. Crianças inocentes nas suas escolas não devem estar sujeitas a este tipo de horrores. Condeno estes actos atrozes e cobardes e junto-me ao Governo e às Forças Armadas do Paquistão, cujos esforços para lidarem com este acontecimento terrível são louváveis.”

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