Paquistão repõe pena de morte para crimes de terrorismo após atentado de Peshawar

Chefe militar foi a Cabul pedir ajuda ao Afeganistão para capturar líder dos talibans que reivindicaram atentado.

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Funeral de um dos alunos mortos Fayaz Aziz/REUTERS
Vigília em memória das vítimas do atentado em Peshawar
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Vigília em memória das vítimas do atentado em Peshawar Manjunath KIRAN/AFP
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Auditório da escola onde muitas das crianças foram mortas A. MAJEED/AFP
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Funeral de um dos alunos mortos A. MAJEED/AFP
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O interior da escola ficou completamente destruído Zohra Bensemra/REUTERS

O primeiro-ministro do Paquistão, Nawaz Sharif, deu ordem para que fosse levantada a moratória sobre a pena de morte que vigorava desde 2008 para que possa ser aplicada em condenações de terrorismo, enquanto o país começa a enterrar as vítimas do atentado contra a escola de Peshawar, que subiram para 148, dos quais 132 estudantes. Há ainda 121 crianças feridas, bem como três professores e auxiliares.

“Dentro de um dia ou dois, vão ser emitidos mandados de execução”, anunciou o porta-voz do Governo, sem avançar quem poderia ser contemplado – há mais de 8000 prisioneiros no corredor da morte no Paquistão, e cerca de 10% condenados por crimes classificados como “terrorismo”, diz a Reuters, que consultou o grupo Justice Project Pakistan.

Esta decisão foi tomada depois de Sharif se encontrar com os líderes dos outros partidos políticos e reconhecer que muitos cidadãos reclamavam nos media o restabelecimento da pena de morte. A violência do Movimento dos Talibans do Paquistão, que reivindicou o atentado, atemoriza a quase totalidade da população paquistanesa: 98% consideravam o terrorismo um grande problema e mais de 60% achavam que havia o risco de extremistas assumirem o controlo do país, segundo uma sondagem Pew, divulgada na véspera das eleições de 2013.

A condenação do ataque contra a escola de Peshawar foi unânime: até os talibans afegãos, eles próprios autores de sangrentos atentados, o consideraram “não-islâmico”. “O Emirado Islâmico do Afeganistão [o nome oficial dos talibans afegãos] exprime as suas condolências e chora com as famílias das crianças mortas”, declarou o porta-voz desta organização, Zabihullah Mujahid. “O assassínio premeditado de inocentes, de mulheres e de crianças é contrário aos princípios do Islão”, afirmou, criticando os seus aliados ocasionais do país vizinho.

Precisamente, as instáveis relações entre o Afeganistão e o Paquistão estão num momento de mudança. Os talibans do Paquistão justificaram o acto de entrar numa escola com a intenção deliberada de matar crianças a tiro como uma vingança pelos ataques do Exército paquistanês que têm sofrido no seu principal bastião, o Waziristão do Norte. A recente melhoria de relações entre Cabul e Islamabad – desde que Ashraf Ghani assumiu a presidência do Afeganistão, em Setembro – fez com que os talibans paquistaneses se vissem sob ataque também do outro lado da fronteira porosa entre os dois países.

As autoridades paquistanesas acreditam que o líder dos talibans, o mullah Fazlullah, está escondido no Afeganistão, e terá coordenado o ataque a partir daí. Por isso, o chefe do Estado-Maior do Exército paquistanês, o general Raheel Sharif, fez uma viagem-surpresa a Cabul nesta quarta-feira, onde se encontrou com o Presidente Ashraf Ghani e com o general John Campbell, comandante das forças norte-americanas e da NATO no Afeganistão.

O Movimento dos Talibans do Paquistão divulgou entretanto fotos de um grupo de seis homens que diz terem sido os responsáveis pelo ataque à escola – embora a polícia diga que eram sete e que todos morreram. Ameaça ainda cometer mais atentados, se não terminar a ofensiva militar no distrito tribal do Waziristão do Norte.

Em Peshawar, todas as lojas e escolas fecharam nesta quarta-feira – o primeiro dos três dias de luto nacional – e havia longas filas de carros, por causa dos múltiplos controlos de segurança montados nas estradas. Há velas e estandartes a expressar solidariedade com as famílias das vítimas e a condenar o ataque em todas as ruas. 

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