Tatiana Macedo é a primeira vencedora do prémio Sonae Media Art

A artista, de 34 anos, ganhou o prémio de 40 mil euros com uma instalação vídeo de tripla projecção.

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Tatiana Macedo,a artista de 34 anos que venceu o Prémio Sonae Media Art Miguel Manso

Tatiana Macedo, que nasceu em Lisboa em 1981 e vive e trabalha em Lisboa, Londres e Amesterdão, foi esta sexta-feira anunciada como a vencedora da primeira edição do Prémio Sonae Media Art.

Parceria estabelecida entre a empresa detentora do PÚBLICO e o Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado, o prémio, no valor de 40 mil euros, é actualmente o maior à criação na área das artes plásticas em Portugal. Tatiana Macedo, que se apresenta como luso-angolana, venceu-o com uma instalação vídeo de projecção simultânea em três ecrãs.

Sob o título 1989, a peça aflora transversalmente o legado colonial da família da artista bem como a necessidade de reflectir esse passado. Aborda a necessidade da tradução e interpretação como âncoras para a produção de pensamento e conhecimento, as estruturas de poder da linguagem e a porosidade das fronteiras entre o documental e a ficção.

De entre as várias obras candidatas, o júri considerou a sua "a mais bem articulada, coerente e aprofundada nos seus múltiplos aspetos artísticos e conceptuais". Em acta, o mesmo júri, que deliberou por unanimidade, escreveu que 1989 "explora o meio videográfico e fílmico [...] de uma forma pessoal e sensível, relacionando o individual com o político". 

Para Tatiana Macedo, 1989 é um “ensaio em campo expandido”, um território de cruzamento entre imagens de arquivo e imagens realizadas pela artista. A narrativa começa com imagens do debate histórico entre James Baldwin e William F. Buckley Jr na Universidade de Cambridge em 1965 intitulado Is the American Dream at the expense of the American Negro?. Entre as secções realizadas pela artista estão as imagens de Lara, uma intérprete de conferências nascida em Moçambique e que lê um guião onde a sua própria experiência de vida surge espelhada.

"A artista trabalha na sua obra três grandes linhas de questionamento: o documental, o ficcional e o arquivo, aspectos de importância fulcral no pensamento e prática artística da contemporaneidade", escreveu o júri. "Do ponto de vista técnico e artístico os processos utilizados revelam uma complexidade de exploração do medium, através da montagem e na forma como constrói diferentes ligações entre fragmentos narrativos e documentais. A obra 1989 revela uma investigação continuada da artista na área do vídeo e do filme e das suas relações com a memória, a história e a cultura contemporâneas." 

“Tudo é traduzido, até a tradutora”, dizia a artista no final de Novembro, aquando da inauguração da exposição no Museu do Chiado onde a sua peça estará até 31 de Janeiro juntamente com os trabalhos dos restantes candidatos ao prémioa dupla Musa paradisiaca, de Eduardo Guerra (n. 1986) e Miguel Ferrão (n. 1986), Patrícia Portela (n. 1974), Diogo Evangelista (n. 1984) e Rui Penha (n. 1981).

Estes artistas foram escolhidos a partir de um universo de cerca de 150 proponentes por um júri de selecção constituído por Emília Tavares, curadora de fotografia e novos media do Museu do Chiado, e os curadores independentes Sandra Vieira Jürgens e Natxo Checa. O júri que acabou por dar a vitória a Tatiana Macedo foi composto pela directora do Electronic Arts Intermix, Lori Zippay, o realizador Marco Martins e o curador João Silvério, da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento. 

O prémio visa distinguir trabalho em vídeo, computação, som, mixed-media, bem como linguagens de cruzamento entre a performance, a dança, o cinema, o teatro e a literatura. 

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