Ferro e Negrão disputam presidência do Parlamento

Deputados eleitos a 4 de Outubro iniciam funções nesta sexta-feira. Mais de um terço é estreante na política parlamentar. Vão passar a apresentar-se aos cidadãos através de um vídeo.

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Fernando Negrão e Ferro Rodrigues na primeira sessão da nova legislatura Pedro Elias

A sessão plenária de estreia desta legislatura vai ser palco da primeira disputa entre esquerda e direita, com a eleição do novo presidente da Assembleia da República (AR) esta sexta-feira à tarde. Fernando Negrão, com o apoio do PSD/CDS, e Eduardo Ferro Rodrigues, defendido pela esquerda, são os candidatos. Mas admite-se a hipótese de nenhum dos dois passar à primeira volta e de ser preciso uma segunda votação.

Fernando Negrão, que presidiu à comissão de Assuntos Constitucionais e à comissão de inquérito ao BES/GES na legislatura que terminou, é o nome que a coligação PSD/CDS considera mais forte – foi esta quinta-feira à noite apreciado pela comissão política dos sociais-democratas - para tentar ir buscar alguns votos à esquerda e assim ultrapassar a minoria de deputados que PSD e CDS somam. As duas bancadas da direita somam 107 votos, faltando nove para os 116 exigidos para a eleição.

Já à esquerda, PS, PCP, PEV e BE vão tentar assegurar a vitória de Ferro Rodrigues, que até agora era líder parlamentar dos socialistas. Só que a eleição é feita por voto secreto e várias fontes contactadas pelo PÚBLICO admitiam ontem que o antigo ministro e secretário-geral socialista podia não ser eleito. Caso haja uma segunda volta, a coligação PSD/CDS deverá manter o mesmo candidato.

À saída da reunião de ontem do grupo parlamentar com Costa, Ferro disse contar ter “um apoio alargado” para ser eleito porque pretende contribuir, nestes “momentos complexos que a democracia nunca tinha vivido”, para o “prestígio” do Parlamento.

O nome do presidente da AR que vai a votos é habitualmente proposto pela força política mais votada – que é a coligação PSD/CDS, embora sem maioria absoluta de deputados –, mas o PS considera que o candidato deve, desta vez, sair da esquerda parlamentar, por esta somar mais deputados. O argumentário é idêntico ao usado para a formação de Governo. Nas conversações entre o PS e a coligação, a questão da eleição dos órgãos internos e externos da Assembleia da República constava da proposta que a direita colocou em cima da mesa, mas, tal como aconteceu com todos os outros pontos, nada foi acordado.

Um terço de estreantes
A sessão desta sexta-feira de manhã marca também o arranque de uma nova fase na vida de um terço dos deputados – são estreantes no Parlamento e boa parte deles é-o até na política. Luís Ribeiro, o mais novo deputado desta legislatura, ainda anda a descobrir os corredores. Para si, a enorme escadaria exterior não tem segredos – ali organizou várias manifestações de estudantes nos últimos anos. Agora que, com apenas 22 anos, passou para o lado de dentro, quer fazer por não esquecer o que o levou a integrar as listas (pela segunda vez) do Bloco pelo Porto. Franzino, de sotaque cerrado, barba, piercing na narina e cabelos longos, Luís diz esperar “representar os que não têm voz, que perderam o emprego, não têm dinheiro para as propinas ou o meio milhão que emigrou”. A dividir casa com outro bloquista (Moisés Ferreira), vai dividir-se entre o Parlamento, nos dias úteis, o activismo, ao fim-de-semana, e a dissertação em Museologia, quando puder.

Ontem à tarde a maior parte dos deputados tratou das burocracias. Há muita papelada para preencher, fotos para tirar e até a novidade de uma videobiografia que ficará disponível no site do Parlamento. No vídeo, os deputados apresentam-se, falam sobre os seus interesses pessoais, dizem como vêem a vida política ou o que quiserem, porque não há guião. No saco de papel que lhes entregaram na altura do registo, todos os deputados receberam uma Constituição da República Portuguesa, uma colectânea parlamentar, o regimento da Assembleia e um Tratado de Lisboa, a que se soma papelada sobre os serviços internos do Parlamento.

Ana Rita Bessa, estreante pelo CDS e especialista na área da educação, tem uma “expectativa muito aberta” sobre o trabalho dos deputados – vem “tão preparada como impreparada”, admite. Mas tem a certeza de que os “tempos politicamente interessantes que se adivinham” vão exigir de si uma “aprendizagem mais rápida e muito mais trabalho”.

Tempos que, diz também Paulo Trigo Pereira, o economista e fiscalista eleito nas listas do PS, exigirão “muito mais trabalho parlamentar qualquer que seja a solução governativa – mesmo no caso que se afigura mais provável, com o PS no executivo e o apoio do PCP e Bloco" na AR. Por isso, “tem que haver uma grande coesão das bancadas destes três partidos – porque se as coisas não correrem bem, a alternativa é muito pior”. Embora admita que “não vai ser fácil”, defende que a receita tem que assentar em três pilares: “abertura; transparência; e informação” – uma filosofia que o tornou conhecido nos comentários televisivos.

Até o edifício precisou desta vez de se adaptar aos novos deputados. Para o eleito do Bloco que se desloca em cadeira de rodas foram colocadas mais rampas em várias escadas; para o deputado do PAN foi preciso arranjar um novo gabinete; e foi necessário mudar o gabinete de um dos vice-presidentes da Assembleia, que pertencia ao PCP e que agora passa para o Bloco.

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