Match Point, diz Barroso: Portugal não caiu do lado da Grécia e deve seguir reformas

O país “tem todas as razões para se sentir orgulhoso pelo esforço feito”, defendeu Durão Barroso.

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Tal como no filme de Woody Allen, Match Point, em que se explora a ideia de destino ou o momento em que a bola de ténis pode cair de um lado ou de outro, também Portugal podia ter caído do lado da Irlanda ou do lado da Grécia, ilustrou Durão Barroso. Mas, defendeu, o Governo português conseguiu que tal não acontecesse.

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Tal como no filme de Woody Allen, Match Point, em que se explora a ideia de destino ou o momento em que a bola de ténis pode cair de um lado ou de outro, também Portugal podia ter caído do lado da Irlanda ou do lado da Grécia, ilustrou Durão Barroso. Mas, defendeu, o Governo português conseguiu que tal não acontecesse.

Por isso, o ex-presidente da Comissão Europeia afirmou que, “independentemente de quem ganhar as eleições”, Portugal merece “respeito pelo que foi feito” nos últimos anos. “Seja quem for que ganhe as eleições é importante manter a política de responsabilidade orçamental” e de reformas, defendeu. Até para não colocar em causa os “ganhos da credibilidade” conquistada.

E elogiou a resposta que foi dada à crise, lembrando que houve “analistas que diziam que Portugal teria um segundo resgaste ou uma saída não limpa” e que, apesar de “todos os pessimismos”, o país conseguiu alcançar os objectivos.

Durão Barroso lembrou que “o objectivo não era de um dia para o outro Portugal voltar a crescer extraordinariamente, porque isso infelizmente foi posto em causa por políticas anteriores acumuladas, que levaram a uma dívida muito elevada”. Mas agora o país, "no seu conjunto, tem todas as razões para se sentir orgulhoso pelo esforço feito”.

E, se para bom entendedor meia palavra não bastasse, ainda avisou: “Olhem para a Grécia, olhem para a tragédia que aconteceu na Grécia, os gregos estão a pagar um preço elevado pelos erros políticos.” Até porque, apesar de Portugal estar no “caminho ascendente”, não está ainda “completamente imune a uma alteração das circunstâncias”, alertou.

Antes, na conferência, Barroso tinha contado que o pai é contabilista e dito que não entende as pessoas que criticam a “visão contabilistíca” da realidade: “Como se fosse mau ter as contas certas.” Aliás, disse, um país que tem uma visão negativa acerca da contabilidade “devia tratar-se”.

Europa não está em crise
Durão Barroso falava numa conferência intitulada O que se passa com a Europa?. Para responder à pergunta, o ex-presidente da Comissão Europeia tentou desconstruir algumas ideias que, defende, não correspondem totalmente à realidade. “A pergunta traz já implícita uma sugestão: a Europa não está bem, está em crise.” Mas “será verdade, será justificado todo o pessimismo que hoje existe em volta da Europa? Será que a Europa, a União Europeia, está em declínio?”. Será que esse negativismo, pessimismo, tem base nos factos?, questionou.

Durão Barroso disse considerar a expressão crise do euro “curiosa”, porque “sugere que o euro está na origem da crise”. Ora, notou, “não foi o euro que provocou a crise”, aliás, “a crise nem sequer teve o seu centro nos países do euro”. Para Durão Barroso, o que existiu foi “a crise financeira e da dívida soberana” e não do euro. E também “não foi a troika que criou a crise, foi a crise que criou a troika”.

Apesar de admitir que a zona euro “não estava preparada” para o que aconteceu, afirmou que hoje em dia “o euro e a zona euro aparecem como zonas de estabilidade, comparadas com o que acontece noutras partes do mundo”.

Portas abertas, não escancaradas
Sobre o tema das migrações e dos refugiados, Durão Barroso sublinhou que quem não está a conseguir dar resposta são “os governos europeus”, porque não se entendem acerca das propostas da Comissão Europeia para resolver o que é uma “emergência”. Por isso, pediu para não se pôr “a culpa na Europa em geral”.

O ex-presidente da Comissão Europeia defende uma Europa de “portas abertas, mas não escancaradas”, considerando que não se deve dar força a ideias xenófobas. Aliás, sobre as “afirmações racistas e xenófobas” feitas por Donald Trump, no âmbito das próximas presidenciais nos Estados Unidos, Durão Barroso disse que provam que não é só na Europa que há “políticos palhaços”. Um exemplo, acrescentou, é Beppe Grillo.