Subida a Matemática não significa que alunos saibam mais, alertam docentes

Média do exame de Matemática A volta a terreno positivo. É um dos melhores resultados de sempre em 20 anos de exames nacionais. Subida a Matemática não significa que alunos saibam mais, alertam docentes

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Número de inscritos nos exames subiu de 157.264 para 160.018 Enric Vives-Rubio

Confirmando as previsões do presidente do Instituto de Avaliação Educativa (Iave), Hélder de Sousa, numa entrevista ao PÚBLICO antes do início das provas, os 33.435 alunos internos que fizeram este exame do 12.º ano conseguiram ficar em terreno positivo, com a média a subir dos 9,2 de 2014 para uns redondos 12 valores numa escala de 0 a 20.   

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Confirmando as previsões do presidente do Instituto de Avaliação Educativa (Iave), Hélder de Sousa, numa entrevista ao PÚBLICO antes do início das provas, os 33.435 alunos internos que fizeram este exame do 12.º ano conseguiram ficar em terreno positivo, com a média a subir dos 9,2 de 2014 para uns redondos 12 valores numa escala de 0 a 20.   

A Português, um exame obrigatório para todos os estudantes do 12.º ano, a média dos alunos internos também se manteve positiva, não se confirmando assim os receios transmitidos pela presidente da Associação dos Professores de Português (APP), Edviges Ferreira, no dia do exame, que alertou para a possibilidade de a média voltar a valores negativos. Mas apesar do poema de Sophia de Mello Breyner Andresen, um dos textos propostos para interpretação que suscitou esta inquietação, a média foi de 11 valores. Em 2014 tinha sido de 11,6. Nesta segunda-feira, a presidente da APP disse-se "agradavelmente surpreendida com a melhoria na capacidade de leitura dos alunos" e lamentou que "o MEC vá alterar um programa, quando ele, ao fim de seis, sete anos de ter sido implementado, estava a dar os seus frutos".

Estes resultados apenas dizem respeito aos alunos internos, que são os que frequentam as aulas até ao final do ano lectivo e que no geral têm sempre melhores notas do que os autopropostos (os que se candidatam por si próprios a exames porque anularam a matrícula ou já não frequentam a escola). Ao contrário do que tem sido a norma em todos estes anos de exames nacionais, o Ministério da Educação e Ciência (MEC) optou por não divulgar a média total a cada uma das 22 disciplinas sujeitas a esta avaliação. Nos resultados enviados à comunicação social nesta segunda-feira, o MEC apenas apresenta, em separado, as médias dos alunos internos e dos autopropostos.

Nos casos de Matemática A e Português as médias destes estudantes foram, respectivamente, de 6,8 e 8,0, muito abaixo portanto dos resultados obtidos pelos alunos internos.

Exames "um instrumento político"
A presidente da Associação de Professores de Matemática (APM), Lurdes Figueiral, comentou a subida de dois valores e meio na classificação média dos alunos internos à disciplina, afirmando que daqui se conclui que “os exames são mais um instrumento político do que de avaliação do que os alunos aprendem e sabem”. “Basta ver que a classificação interna dos estudantes de Matemática A é semelhante à do ano passado, para se perceber que não foram os professores que passaram a ensinar melhor e os alunos a saber mais, de um ano para o outro. O Iave é que fez um exame completamente desadequado há um ano”, comentou.

Jaime Carvalho, também dirigente da APM, considerou que “o drama é que, como disse no dia do exame", esta prova "está bem feita”. “Mostra que as de anos anteriores constituíram uma verdadeira agressão aos alunos que, afinal, não são eram tão maus como alguns, às vezes, gostam de os pintar”, disse o professor universitário, que lamentou “nunca vir a saber como é que o Nuno Crato comentador analisaria esta subida”. 

Fernando Costa, presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática (SPM), frisou igualmente que “a oscilação da média não significa que os alunos passaram, de um ano para o outro, a saber o equivalente a mais dois, três valores do que os colegas do ano anterior”. "Quer dizer, sim, que houve alterações no modelo de exame (como, por exemplo, uma menor valoração dos 'números complexos', a última matéria a ser dada no 12.º ano e que os alunos consideram, normalmente mais difícil) ”, insistiu.

Neste contexto, o presidente da SPM sublinhou a importância de fazer provas que permitam comparar resultados (o que, na sua opinião, não se verifica desta vez). Disse desejar que no próximo ano seja garantida a “estabilidade, no tipo de prova”, e adiantou que entre os modelos de 2014 e o de 2015, escolheria o último, “por ser aquele em que há uma maior correspondência entre a classificação interna e a externa”. Com uma alteração, no entanto: a inclusão de uma questão que permitisse distinguir os alunos excelentes, que, na sua perspectiva, não existiu, neste caso.

A média mais alta no exame de Matemática A foi alcançada em 2008, com os alunos internos a obterem 14 no exame, o que levou a Sociedade Portuguesa de Matemática, então presidida por Nuno Crato, a acusar a ministra da Educação da altura, Maria de Lurdes Rodrigues, de promover o facilitismo.  

Em comunicado divulgado nesta segunda-feira, o Iave justifica o resultado obtido a Matemática A com o facto de, pela primeira vez, o exame integrar conteúdos do 10.º ano e também porque “a concepção das provas de 2015 teve em conta diversos pareceres de especialistas que consideraram que o peso que tinha vindo a ser atribuído ao cálculo era excessivo, que a prova deveria conter pelo menos um item de modelação matemática e mobilizar capacidades relacionadas com o conhecimento de conceitos e procedimentos, como já acontecera em diversas provas de anos anteriores”.

“ Foi nestes itens (itens 1. a 4. do Grupo I) que se observou uma melhoria considerável dos resultados”, informa o Iave, que também destaca outra evolução, desta vez pela negativa. A média do exame de Biologia e Geologia, do 11.º ano, desceu de 11 para 8,9 valores, o que surpreendeu o Iave. No seu comunicado frisa que a concepção do exame foi “em tudo semelhante às provas de 2013 e 2014” e que portanto o que o resultado obtido mostra é que “os alunos não dominam conteúdos curriculares essenciais que foram avaliados em itens que apelavam sobretudo ao conhecimento e à compreensão simples de conceitos”.

A descida também surpreendeu a Associação Portuguesa de Professores de Biologia e Geologia, segundo um dos seus dirigentes, João Oliveira. “No dia da prova, considerámo-la adequada, embora com um muito elevado nível de exigência de competência interpretativas para a descodificação do enunciado. Talvez este factor explique os resultados”, admitiu. Segundo disse, quando a prova passou a ser feita no final do 11.º e não do 12.º, "percebeu-se muito claramente que a capacidade de interpretação depende muito da maturidade dos alunos, e que, por outro lado, esta também é muito diferente aos 16 e aos 17 anos”.

João Oliveira considerou ainda "preocupante" a percentagem de alunos que não atingiu os 9,5 valores, que permite que os alunos utilizem o exame como prova de ingresso no ensino superior. “Temos assistido a uma fuga dos alunos dos cursos de Ciências e Tecnologias que não é, de todo, positiva, e estes resultados não ajudam a inverter esta situação”, considerou. Na sua opinião, "o Iave deveria regressar ao modelo de prova de 2014 que, como a APPBG defendeu nesse ano, deveria ser usada como paradigma, na medida em que foi muito próxima do trabalho desenvolvido nas aulas, ao longo do ano”.

Física também recupera
Outra das novidades deste ano é também a média alcançada pelos alunos internos a Física e Química A, um das disciplinas que tradicionalmente apresentam piores resultados. Mas em 2015 a média subiu para 9,9 valores contra os 9,2 de 2014. Como a partir de 9,5 já é possível o arredondamento para 10 valores, o resultado é assim positivo, confirmando-se também aqui as previsões feitas por Hélder de Sousa para as disciplinas de Matemática A e Física e Química A. Segundo o presidente do Iave, os resultados nos últimos anos a estas disciplinas tinha-se desviado “daquilo que é reconhecido como adequado”.

O MEC destaca, por seu lado, que a disciplina de Biologia e Geologia foi a única, das 22 sujeitas a exame, em que os alunos internos obtiveram uma média negativa. “As classificações obtidas na 1.ª fase evidenciam, na generalidade, uma melhoria relativamente ao ano anterior”, frisa numa nota divulgada em conjunto com os resultados, onde explica ainda que se registou “uma melhoria superior a meio valor na classificação média de exame dos alunos internos em 9 das 22 disciplinas” e que em seis “ a média das classificações reduziu mais de meio valor”. 

Quanto às diferenças de resultados entre alunos internos e autopropostos, o MEC observa que “as diferenças mais significativas” ocorreram nas disciplinas de Geometria Descritiva A e de Matemática A, respectivamente com 4,7 e 5,2 valores de diferença”. “Pelo contrário, verifica-se nas disciplinas de Física e Químicas A e de Biologia e Geologia a diferença mais baixa" (1,3 valores), acrescenta.

A percentagem de alunos internos que chumbaram a Matemática desceu de 22 para 11% e a Português subiu de 5 para 6%. Apesar da subida da média, Física e Química A volta a ser a que tem mais chumbos: reprovaram 15% dos 28.062 alunos internos que fizeram o exame. Logo a seguir vem História da Cultura e das Artes com 14% de chumbos entre os 2610 internos que realizarem este exame.

No conjunto, acrescenta o MEC, entre internos e autopropostos, as disciplinas com maiores percentagens de positivas foram a de Desenho A, Geografia A e Matemática Aplicada às Ciências Sociais, com respectivamente 89%, 72% e 69%”.