O medo do contágio regressou à Europa, onde o primeiro sinal veio dos mercados

Com a Bolsa de Atenas fechada, a praça de Lisboa foi a que mais caiu na Europa. Receios estendem-se ao andamento da economia do euro.

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Na Europa, na Ásia e nos EUA, o dia de segunda-feira foi de perdas nas bolsas RALPH ORLOWSKI/Reuters

O dia desta segunda-feira expôs as fragilidades que as economias da periferia do euro ainda enfrentam, com maior ou menor grau, face à volatilidade da crise grega. Não foi uma surpresa a sessão agitada que se viveu nas bolsas mundiais – de Tóquio a Londres, de Lisboa a Frankfurt, de Paris a Wall Street – nem o movimento ascendente que se verificou nos juros da divida de Portugal, Espanha e Itália. “Até ao referendo no domingo, e mesmo alguns dias depois, a incerteza é tanta que me parece um totoloto [falar dos mercados]”, compara Filipe Silva, director de gestão de activos do Banco Carregosa.

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O dia desta segunda-feira expôs as fragilidades que as economias da periferia do euro ainda enfrentam, com maior ou menor grau, face à volatilidade da crise grega. Não foi uma surpresa a sessão agitada que se viveu nas bolsas mundiais – de Tóquio a Londres, de Lisboa a Frankfurt, de Paris a Wall Street – nem o movimento ascendente que se verificou nos juros da divida de Portugal, Espanha e Itália. “Até ao referendo no domingo, e mesmo alguns dias depois, a incerteza é tanta que me parece um totoloto [falar dos mercados]”, compara Filipe Silva, director de gestão de activos do Banco Carregosa.

A questão que se coloca de novo, para além da pressão dos mercados, é saber que impactos o prolongamento da incerteza grega pode ter economicamente nos países mais fragilizados no espaço da moeda única: saber quão segura é a barreira de segurança que possa evitar o contágio a países como Portugal, Itália, Irlanda e Espanha, economias com elevados níveis de dívida pública e, por isso, mais pressionados num eventual cenário de abrandamento do PIB.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) espera que a economia do euro cresça cerca de 1% “no médio prazo”, um ritmo que considera baixo numa região ainda “vulnerável aos choques”. Esta era a análise feita há menos de duas semanas, antes de colapsarem as negociações entre a Grécia e os parceiros europeus. E de então para cá Washington não se cansa de repetir que é preciso encontrar uma solução a bem da economia mundial.

Para Portugal, o que é que mudou desde sexta-feira para que analistas voltassem a falar do país como um dos “próximos” da linha da frente da crise? “Com o programa de expansão monetária europeu, o país estava a conseguir trocar dívida e baixar os juros, a apresentar um crescimento forte e o desemprego em queda. Depois dos ajustes estruturais, estamos no ponto de transição a nível nacional e existe o perigo de um retrocesso económico evidente. Este pode ser o maior custo da situação grega para Portugal”, considera Eduardo Silva, gestor da empresa de corretagem XTB.

O andamento da economia europeia, onde estão os principais parceiros comerciais de Portugal (Espanha, Alemanha, França), será determinante. O Governo português apontava em Abril, no Programa de Estabilidade, para um crescimento de 1,6% do PIB este ano. E para isso conta com uma “forte aceleração” da procura externa.

Que almofada?
Como factor de pressão, Portugal continua a enfrentar os mercados e o elevado nível de dívida pública, que ascende a 130% do PIB (225.720 milhões de euros). Mais alto só na terceira economia do euro (a Itália, com uma dívida de 132% do PIB) e na Grécia (177%).

Ao intervir no mercado para comprar títulos de dívida pública, o Banco Central Europeu (BCE) deu uma ajuda para que as taxas de juro das obrigações portuguesas recuassem este ano. Mas se a rendibilidade implícita da dívida pública portuguesa a dez anos atingiu um mínimo histórico em Março, quando baixou para os 1,6%, o contexto de volatilidade foi crescendo e as taxas de juro já regressaram aos 3%. A trajectória dos juros da dívida no mercado secundário tem um impacto indirecto no custo do financiamento quando os Estados lançam leilões de dívida no mercado primário.

As taxas de juro da dívida grega com um prazo de dez anos dispararam nesta segunda-feira, passando para 15% quando na última sexta-feira os títulos estavam em 11,16%. E a pressão no mercado secundário intensificou-se de forma imediata sobre os outros países periféricos, embora com subidas menos acentuadas. “O que parecia um cenário de afastamento definitivo rapidamente evoluiu para indefinição em que nenhum cenário parece definitivo”, nota Eduardo Silva

As taxas de juro da dívida portuguesa escalaram para os 3,08% ao final do dia, contra os 2,718% de sexta-feira. O mesmo aconteceu com os títulos de Espanha (2,358%) e de Itália (2,395%), ao contrário do que se verificou com a dívida alemã (referência no mercado) e irlandesa, que negociaram em queda. “Os países do sul da Europa podem ser o ‘next in the row’,enquanto os países mais ricos reforçam o seu papel de refúgio e estão com os juros da dívida a descer”, nota Filipe Silva, director de gestão de activos do Banco Carregosa.

O Governo português tem repetido que os cofres estão cheios. O facto de as reservas de liquidez estarem nos 14.900 milhões de euros retira alguma pressão, mas pela frente Portugal vai enfrentar, ainda este ano e nos próximos, picos de amortização de dívida exigentes. Desde logo em Outubro, quando há para amortizar cerca de 5500 milhões de euros de uma linha de obrigações do tesouro. A expectativa é que neste segundo trimestre o Tesouro obtenha cerca de 7600 milhões de euros de financiamento e que a almofada de liquidez esteja em cerca de 9800 milhões de euros no final do ano.

Esta segunda-feira foi um dia de quedas acentuadas em todas as praças da Europa, com a Bolsa de Lisboa à cabeça a registar a maior descida, de 5,22%. Nenhuma das cotadas do PSI-20 escapou. O índice chegou mesmo a deslizar 6,16% e acabou por encerrar com a maior desvalorização desde a crise política de 2013, quando Vítor Gaspar e Paulo Portas se demitiram.

A bolsa de Atenas permanece encerrada. Milão caiu mais de 5% e pouco atrás ficou a bolsa madrilena, a recuar 4,56%. A pressão vendedora foi menor nas acções das praças de Paris e Frankfurt, mas nem por isso deixou de ser significativa, com recuos de 3,74% e 3,56%, respectivamente. O sentimento negativo estendeu-se à City londrina, onde o recuo foi de 1,97%, e chegou a Wall Street, onde o Dow Jones perdeu 1,95% e o Nasdaq desceu 2,4%.