MIMA: Starck ajudou a baixar o preço destas casas portuguesas

Em 2014, os arquitectos da MIMA House receberam uma encomenda especial. O designer Philippe Starck quis uma das suas casas pré-fabricadas e dessa colaboração nasceu um novo modelo e mais barato

José Campos
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A encomenda chegou-lhes por e-mail, como tantas outras — só a assinatura acabou por chamar a atenção de Marta Brandão e Mário Rebelo de Sousa: o designer Philippe Starck queria ter uma MIMA House, para uso pessoal. De cliente, o francês passou a mais uma pessoa envolvida no processo de criação da casa modular personalizável, findo o qual nasceu um novo produto MIMA.

As reuniões com o famoso designer francês foram “momentos de aprendizagem” para os dois jovens arquitectos, que já contam com um prémio ArchDaily no currículo. “O facto de ele nos ter escolhido e a um produto nosso para uso próprio foi um voto de confiança e um privilégio enorme”, começa por dizer Marta, em entrevista ao P3 via Skype. O casal, que vive na cidade suíça de Lausanne há vários anos, aproveitou “para lhe pedir conselhos sobre a própria empresa”. “Notava-se mesmo que também sentia que este género de projectos é o futuro”, acredita Mário.

“Foi muito engraçado estar com alguém que entendesse, desde o início, as nossas ambições”, diz Mário, 31 anos. “Enviou-nos uma planta, praticamente igual à que está construída hoje, e foi a primeira pessoa a perceber exactamente o nosso conceito — e que o soube tornar ainda melhor”, completa Marta, 30 anos, que, em 2014, foi uma das vencedoras do Prémio Dona Antónia.

Adaptar os módulos pré-fabricados MIMA às exigências de Starck não foi complicado: ao contrário do que muitas vezes acontece, o designer “retirou elementos para que apenas ficasse o essencial”, explica Mário. “Esta casa [de Starck] é incrível, sente-se mesmo um conforto como nunca senti, uma paz. Só mesmo com alguém com a perspicácia, a cultura e a experiência dele é que foi possível construir uma casa tão boa e com um preço ainda mais reduzido.”

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A encomenda de Philippe Starck transformou-se numa colaboração entre o designer e a MIMA José Campos

“Tudo isto foi interessante, uma vez que veio provar o aspecto universal que nós queríamos que o nosso produto tivesse”, reflecte Marta. A MIMA Essential nasceu, assim, de uma encomenda que virou colaboração e da necessidade de fazer o produto chegar a mais público. O preço “é ainda mais baixo” do que o da primeira casa modular que criaram, sublinha Mário, e a filosofia inerente é “viver com o essencial” — daí a “optimização de custo”.

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[na casa de Starck] sente-se mesmo um conforto como nunca senti, uma paz, descreve Mário José Campos

Universo MIMA a crescer

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O modelo MIMA Essential foi inspirado na visão que Starck imprimiu na sua casa de férias José Campos

A MIMA House — que o P3 apresentou há cerca de três anos — sempre foi “mais do que uma casa”. “É um estudo antropométrico, um sistema que as pessoas sentem, realmente, que se adapta facilmente”, descreve Mário, e os preços começam nos 45 mil euros. Entre Fevereiro de 2012 e agora, o casal de arquitectos consolidou os produtos, encontrou um nicho de mercado, tornou-se num casal de empresários com mais de 20 colaboradores. Perto de 80% da procura é estrangeira — a aposta forte tem sido o mercado europeu — e o perfil dos clientes varia entre “casais muito novinhos até pessoas muito mais velhas”. A estratégia da MIMA, resume Mário, é simples: “Queremos ser a maior empresa do mundo de habitação pré-fabricada, a Apple das casas”.

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A MIMA tem hoje mais de 20 colaboradores e 80% da procura é estrangeira José Campos

Com a assinatura de Mário e Marta já estão disponíveis quatro produtos para habitação pré-fabricada: às “Mimas” House e Essential juntam-se a Light e a Restart. Pensada para terrenos agrícolas com limitações de construção, a MIMA Light “é leve no preço e nas linhas”, com 30 metros quadrados e pronta a “pousar no terreno” — pode vir a revelar-se popular no mercado de turismo, por exemplo. “É arquitectura-escultura, inspirada nas esculturas de Donald Judd”, revela Mário.

Já a MIMA Restart será dedicada à recuperação de casas, mas com algumas diferenças face à reabilitação que estamos habituados a ver. “Em vez de reconstruirmos as casas, o que vamos fazer é aproveitar o charme existente, deixando a parte das ruínas que está bem conservada e que pode criar ligações interessantes com a nova estrutura”, explica Marta, através da integração de uma matriz. O resultado final deste sistema de reabilitação — que será testado num complexo de sete casas a ser construído brevemente — será uma intersecção entre o que já existe e os módulos MIMA.

É a diversidade que os realiza, não vêem a arquitectura apenas como forma de criar casas ou projectos convencionais. Por isso decidiram voltar-se, também, para o mobiliário (com a colecção MIMAlism, apresentada no salão de Paris Maison & Object de 2014) e até para um protótipo de veículo (MIMA Car), pensado no âmbito do MIMA Lab. Mário e Marta têm uma visão delineada e estão em busca de “desenvolver uma ideologia completa, uma imagem MIMA”.

Artigo actualizado às 19h23 de 17 de Março de 2015.

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