Cuba já libertou dezenas de dissidentes, conversações com EUA avançam

É um efeito do acordo entre os governos de Havana e de Washington. Próximo episódio da aproximação são reuniões diplomáticas em Havana, nos dias 21 e 22.

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Angel Figueredo e a mulher, Haydee Gallardo, junto ao filho Reynier, já em casa, em Havana Reuters

A libertação dos presos faz parte do histórico acordo entre os governos de Cuba e os Estados Unidos, anunciado a 17 de Dezembro, após mais de meio século de inimizade e embargo económico. O próximo episódio da reaproximação já tem data marcada: conversações sobre a normalização de relações diplomáticas, em Havana, nos próximos dias 21 e 22.

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A libertação dos presos faz parte do histórico acordo entre os governos de Cuba e os Estados Unidos, anunciado a 17 de Dezembro, após mais de meio século de inimizade e embargo económico. O próximo episódio da reaproximação já tem data marcada: conversações sobre a normalização de relações diplomáticas, em Havana, nos próximos dias 21 e 22.

Até esta sexta-feira, tinham sido libertados 36 presos políticos, informou a União Patriótica de Cuba. Terão de se apresentar regularmente as autoridades e foram avisados de que voltarão à prisão, “caso mantenham o activismo pró-direitos humanos”, acrescentou a organização política, segundo a qual 29 dos libertados são seus membros.

O governo de Havana não fez qualquer comentário sobre as libertações. O regime alega que não há presos políticos em Cuba e referia-se normalmente aos dissidentes como “mercenários” a soldo dos Estados Unidos. Já depois do acordo, o Presidente, Raúl Castro, referiu-se a eles como “algumas centenas de indivíduos que recebem dinheiro, instruções e oxigénio do exterior”.

Entre os libertados está Angel Yunier Rémon Arzuaga, um artista hip-hop, com o nome artístico de El Crítico, preso em 2013 depois de ter pintado, na rua onde mora, em Bayamo, província de Granma, a palavra de ordem “Abaixo a ditadura”. Foi condenado a uma pena de oito anos de prisão, a mais pesada entre os recém-libertados.

Rémon, 31 anos, fez greve de fome e contraiu cólera na prisão, segundo informações da União Patriótica. Esta sexta-feira, manifestou a sua satisfação à Reuters, por telefone. “Estou muito contente por voltar para a minha família, para os meus filhos, para a minha mulher”, disse. Acrescentou que vai continuar a lutar uma “Cuba independente e verdadeiramente livre”.

Entre os libertados estão também o casal Ángel Figueredo Castellón e Haidee Gallardo Salazar, de Havana, presos no ano passado depois de terem gritado palavras de ordem contra o Governo. Haidee Gallardo faz parte do grupo Damas de Blanco, organização de mulheres de opositores presos.

A maior parte dos libertados nos últimos dias tinham sido condenados a penas de dois a cinco anos de cadeia, alegadamente por resistência à prisão e ameaças a polícias, segundo a Reuters.

Quando, a 17 de Dezembro, o Presidente norte-americano, Barack Obama, e Raúl Castro anunciaram o degelo nas relações nas relações bilaterais, havia cerca de uma centena de presos políticos em Cuba, segundo fontes dissidentes citadas pela AFP. O número seria superior a 300 no momento em que Raúl substitui o irmão Fidel, em 2006.
A Reuters observou que em prisões cubanas estão condenados a penas que vão até 30 anos de cadeia, vários exilados cubanos de Miami, acusados de terem tentado entrar na ilha de Cuba com armamento.

Conversações em Havana

A primeira indicação de que as libertações tinham começado foi dada na terça-feira pelo Departamento de Estado norte-americano. Mas a porta-voz, Jennifer Psaki, não falou do número de pessoas envolvidas nem da sua identidade.

Nos dias seguintes foram sendo conhecidas de modo avulso outras libertações: cinco de uma vez, seis de outra… Na quinta-feira, o número subiu para 30 e depois para 36. As libertações “continuam a conta-gotas e devem prosseguir”, disse Elizardo Sanchez, presidente da Comissão Cubana dos Direitos Humanos, citado pela AFP.

Esta sexta-feira, Ben Rhodes, vice-conselheiro de segurança nacional de Obama, um dos seus dois colaboradores mais directamente envolvidos nas negociações que os Estados Unidos e Cuba mantiveram secretamente entre o início de 2013 e o final de 2014, referiu-se no seu twitter à “substancial e contínua” libertação de presos.

A reaproximação entre os Estados Unidos e Cuba terá como próximo passo a visita a Havana de uma delegação liderada pela secretária de Estado adjunta Roberta Jacobson, a principal diplomata dos Estados Unidos para a América Latina. A deslocação foi confirmada na quinta-feira pelo Governo de Washington.

O encontro estava  já previsto no âmbito das conversações sobre assuntos migratórios que os dois países iniciaram há 20 anos e tiveram ao longo do tempo diversas interrupções . Mas desta vez a agenda, que ainda não está fechada, incluirá , segundo a porta-voz Jennifer Psaki, o restabelecimento de relações diplomáticas e assuntos relacionados, como a abertura de embaixadas.