2015, o fim das promessas infantis

Passos e Costa dão-nos pelo menos esperança de que 2015 não seja um comboio de promessas infantis.

Em 2015 vai ser preciso muito mais do que piadas na vida política. O ano vai fechar com uma eleições particulares: serão as primeiras legislativas a seguir ao fim da troika, as primeiras com António Costa à frente do PS e as últimas com Cavaco Silva em Belém.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Em 2015 vai ser preciso muito mais do que piadas na vida política. O ano vai fechar com uma eleições particulares: serão as primeiras legislativas a seguir ao fim da troika, as primeiras com António Costa à frente do PS e as últimas com Cavaco Silva em Belém.

A campanha eleitoral ainda está em “modus” suave, mas quando começar a sério todos tememos que a longa maratona eleitoral que nos espera se transforme na mãe-de-todas-as-demagogias. Portugal tem duas visões irreconciliáveis. Inspirados nos indicadores que mostram a economia a recuperar, há os que defendem a continuidade de políticas. Mas muitos vêem nesses mesmos números a prova de que a trajectória tem de mudar. O abismo entre estes dois mundos presta-se à demagogia e a promessas eleitorais ridículas. O país pede hoje propostas políticas claras, promessas realistas e sem demagogia. A discrepância entre as palavras e os actos é uma das principais razões para a “pouca estima” que os cidadãos sentem hoje pelos políticos. Todos nos lembramos: na campanha de 2011 Passos Coelho prometeu que não cortaria o subsídio de Natal dos funcionários públicos e três meses depois anunciou o corte; do mesmo modo que na campanha de 2009 José Sócrates prometeu não aumentar os impostos e oito meses depois aumentou.

A política, um cruzamento da gestão dos problemas de hoje com a visão para resolver os problemas de amanhã, já não aguenta mais promessas. Esse tempo acabou. Nas suas sábias cartas, Cícero escreveu que “é a nossa visão que deve manter-se constante, não as nossas palavras”. É uma ideia corajosa, mas que se aplica à necessidade de saber e conseguir fazer compromissos em nome do bem comum. Hoje, as palavras dos políticos têm de voltar a ter valor. Ocupados a improvisar a cada nova crise — “a chutar bolas para fora, como os jogadores de futebol”, diz o pensador político Daniel Innerarity — os políticos têm de reconhecer que a instabilidade e a complexidade do nosso tempo não lhes permite continuar a fazer promessas vazias. Sobretudo as que implicam resultados concretos, como postos de trabalho. Politizar, diz Innerarity, “é situar as coisas num âmbito de discussão pública, arrebatá-las aos técnicos, aos profetas e aos fanáticos”. Uma das novas tarefas dos políticos é acabar com as promessas ocas. Neste momento, Passos e António Costa mostram cuidado em não fazer promessas irrealistas. Ambos pagam um preço por isso. E ambos dão-nos a esperança de que este ano de campanha não seja, pelo menos, um comboio de promessas infantis.