Quase mil imigrantes salvos no Mediterrâneo

Um barco de mercadorias sem tripulação seguia na direcção da costa italiana antes de ser resgatado pela Marinha italiana. Autoridades perguntam-se como podem ter sido transportados 970 clandestinos numa embarcação desta envergadura.

Foto
O barco chegou ao porto de Gallipoli durante a madrugada de quarta-feira Nunzio Giove / AFP

O Blue Sky M foi encontrado ao início da noite de terça-feira à deriva perto da ilha grega de Corfu sem os membros da tripulação. O desastre esteve perto de acontecer à medida que a embarcação se aproximava da costa rochosa.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

O Blue Sky M foi encontrado ao início da noite de terça-feira à deriva perto da ilha grega de Corfu sem os membros da tripulação. O desastre esteve perto de acontecer à medida que a embarcação se aproximava da costa rochosa.

“Uma hecatombe foi evitada, mais de 900 migrantes salvos num barco com o motor bloqueado e que se dirigia rumo à costa da Apúlia [região no sudeste italiano]”, publicou a guarda costeira italiana na sua conta de Twitter esta manhã.

Por volta das 3h30 da manhã (menos uma hora em Portugal continental), o barco aportava em Gallipoli, na costa italiana, onde dezenas de pessoas desembarcaram e foram levadas para várias escolas onde pernoitaram. Para o hospital foram transportadas 35 pessoas, algumas das quais sofriam de hipotermia, revelou a Cruz Vermelha. Inicialmente a organização revelou terem sido encontradas quatro pessoas mortas no interior do navio, mas, horas depois, veio retirar essa informação e afirmou que não foi encontrada qualquer vítima mortal.

“Foi uma verdadeira corrida contra o tempo. Desbloquear os motores foi uma operação difícil e delicada, mas eles conseguiram”, explicou à AFP o porta-voz da guarda costeira italiana, Filippo Marini.

Permanecem, porém, muitas dúvidas sobre o incidente. As autoridades gregas foram as primeiras a serem alertadas, durante a tarde de terça-feira, depois de alguém ter enviado um pedido de SOS a partir do barco, dizendo estarem a bordo “homens armados”.

A Marinha grega enviou uma fragata e um helicóptero e a polícia marítima despachou dois barcos patrulha para responder ao pedido de socorro. As forças de segurança não encontraram “nenhum problema [mecânico] e nada de suspeito no barco”, disse à AFP uma responsável do departamento de comunicação da polícia marítima.

A intervenção das autoridades italianas ocorreu algum tempo depois, com o envio de um helicóptero e de uma lancha da Marinha. O barco de mercadorias seguia em direcção à costa italiana com o motor bloqueado, sem tripulação e com “700 pessoas” a bordo, segundo a primeira estimativa, identificadas como imigrantes clandestinos.

As nacionalidades ainda não foram reveladas, mas um homem que viu o barco a chegar a Gallipoli disse à BBC tratarem-se sobretudo de refugiados sírios e curdos. “Tenho um amigo na protecção civil que me disse que estão cerca de 800 a 900 pessoas dentro do navio. Não podemos confirmar se há mortos no interior, mas o meu amigo disse-me que havia quatro ou cinco pessoas mortas”, contou ainda Gilberto Busti.

O resgate de embarcações lotadas com imigrantes ilegais em direcção a Itália – provenientes sobretudo do Médio Oriente e do Corno de África – é algo de rotineiro no Mediterrâneo. No entanto, é incomum que um barco de transportes de mercadoria de grande envergadura, como é o caso do Blue Sky M, seja utilizado para estes fins. Normalmente são utilizadas pequenas embarcações em condições muito precárias.

Nessas travessias, a tripulação acaba frequentemente por abandonar o barco antes de alcançar a costa, para evitar a prisão.

Outra incógnita é o percurso do Blue Sky M. Segundo as autoridades, o destino do barco de bandeira moldava era o porto de Rijeka, na Croácia, e a sua proveniência seria a Turquia, embora esta última informação ainda não tenha sido confirmada.