Do fundo do palco, Branko

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Nos concertos dos Buraka Som Sistema (BSS), ele está lá ao fundo, "escondido". Actua sempre com o telemóvel no bolso de trás das calças — às vezes, conta por telefone ao P3, quando não tem "grande coisa para fazer" em palco, desembolsa-o e documenta o seu ponto de vista. No Instagram de Branko, produtor dos BSS, manda-chuva da Enchufada, músico e outras coisas que tais, pode-se ver o que é uma festa de arromba a partir de quem a comanda: centenas (milhares?) de mãos no ar, Kalaf lá à frente, Blaya sem parar. E não só. Não é muito, avisa-nos entre risos, de "refeições" (não há cá, felizmente, espaço para fotografias de comida), antes de música e de momentos. Como os que passou recentemente em Tóquio, na Red Bull Music Academy, onde esteve uma vez mais como tutor de estúdio. Um modelo que o fascina, confessa — ele que começou como participante, em 2002, passou para "lecturer" e é, desde 2010, um "facilitador musical" na academia. "Cria-se, durante duas semanas por ano, um mundo utópico em que a música é realmente o mais importante", diz. Uma plataforma para pessoas que acham que estão perdidas no mundo. Como ele, em 2002, na era pré-internet, fechado num sótão da Amadora a fazer música, até aterrar em São Paulo e conhecer outros como ele.

 

Como mentor, e como músico, observador, "digger", melómano, João Barbosa tem vindo a encontrar há já algum tempo "sementes" do EP-árvore plantado pelos Buraka em 2006. Por exemplo, na ideia de "olhar para as raízes do passado para criar um futuro diferente". Um propósito que também está presente no Globaile, conceito que Branko inventou para o Vodafone Mexefest (29 de Novembro no Coliseu dos Recreios e Ateneu Comercial de Lisboa). "Já tinha a palavra Globaile na cabeça há algum tempo e não sabia bem o que fazer com ela." Concebeu, então, um baile global, à luz de uma linha que está presente em tudo o que faz, da editora Enchufada aos Buraka: "A ideia de ver a música electrónica com um ângulo geográfico cultural". Isto é, se uns acreditam que já nada pode ser inventado, para João "há uma série de fusões de ritmos tradicionais que podem ser refeitos, recriados para gerar algo novo". "É a minha missão em tudo o que faço." O Globaile apresenta, por isso, projectos que têm a mesma linguagem, com Branko a encerrar as festividades às 3h10 no Coliseu. Convida os Dengue Dengue Dengue (23h30, Coliseu), com a sua "visão peruana da cumbia, com uns certos tons de África", e os MGDRV (23h30, Ateneu), que "revisitam a realidade de Lisboa com um contexto literário", numa consola com cartuchos "trap" e "hip hop".

 

Pode vir a ser o "pontapé de saída" de uma "coisa" que ainda não sabe bem o que será, aqui ou "noutras partes do planeta Terra. "Só consigo pensar em Lisboa como sítio que me colocou no mundo e que me deu inspiração. Para projectos penso no global." O seu, em nome próprio, também está efervescente. Ri-se: "Estou a começar a trabalhar para algo que pode vir a ser um álbum, acho que é assim que se chama". Depois do EP "Control" (2014) e da "mixtape" "Drums Slums & Hums" (2013), este será, portanto, o primeiro lançamento num formato mais longo e poderá estar cá fora no Verão de 2015, com, "pelo menos", dez temas, com influências diversas, vindas do iTunes que é a sua cabeça. Música electrónica voltada para o "clubbing", mas obedecendo ao modelo "tradicional" da canção. "Não consigo evitar." AR