Um produto do cérebro de Seguro

O sufrágio uninominal seria o fim da democracia, até da escassa democracia que os portugueses por enquanto gozam.

O exemplar típico assina o ponto e, a seguir, vai trabalhar numa empresa ou num escritório de advogados. Uma dezena deles passeia pelos corredores, lê os jornais, bebe um café e, às cinco, volta para casa. As gritarias, de resto raras, cá em baixo no anfiteatro não comovem ninguém, nem o público que ninguém sabe o nome dos figurões, nem o país que os despreza do fundo do coração.

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O exemplar típico assina o ponto e, a seguir, vai trabalhar numa empresa ou num escritório de advogados. Uma dezena deles passeia pelos corredores, lê os jornais, bebe um café e, às cinco, volta para casa. As gritarias, de resto raras, cá em baixo no anfiteatro não comovem ninguém, nem o público que ninguém sabe o nome dos figurões, nem o país que os despreza do fundo do coração.

Têm sido feitas propostas para acabar com esta vergonha, que os partidos rejeitam sempre. Porquê? Porque os chefes precisam de sinecuras para premiar os seus fiéis, principalmente quando eles vêm da província; e porque os batalhões que chegam, bem disciplinados por uma vida de subserviência, nunca lhes desobedecem. De resto, não se compreende por que razão os “reformadores” do Parlamento e da lei de eleições preferem invariavelmente o círculo uninominal e variantes. Seguro fala, se não me engano, em “visibilidade”, em “transparência” e nos chavões do costume; e também no facto miraculoso de cada português ficar, depois de 2015, com o seu próprio deputado. Claro que esta “ideia” é uma salada de ideias trazidas do estrangeiro, que não nos servem e já se demonstrou que não nos servem.

O círculo uninominal não impede que a intriga fervilhe, como fervilha agora, embora com novos beneficiários. O voto do patrão da pequena ou da grande empresa (rural, industrial ou de serviços) e dos grandes funcionários do Estado passará a valer mais do que um voto e daí se escorregará depressa para um comércio de voto generalizado. Votar no A ou votar no B exige um minucioso tráfego de influência e uma larga troca de favores. Em vez das clientelas dos partidos, mesmo assim relativamente poucos e com um chefe conhecido à frente, virão os “donos disto tudo”, sem nome e sem cara, que puxam pelos cordões na sombra. O sufrágio uninominal seria o fim da democracia, até da escassa democracia que os portugueses por enquanto gozam. Só Seguro não percebe.