Fado Camané, um bater de coração

Mais novas do próximo DocLisboa. Com homenagens a Eduardo Coutinho, Harun Fraocki, Alain Resnais e Lou Reed. Maïdan, de Sergei Loznitsa, a abrir

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Pode ser visto como um documentário sobre a gravação de um disco: um artista a falar do seu trabalho, pedagogia e sensualidade. É também um subtil registo das cumplicidades entre um cantor e os seus colaboradores, que são, no caso concreto, José Mário Branco e Manuela de Freitas – teia de afectos e ficções em surdina. É também a história de um homem e de um cenário, o estúdio de gravação.

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Pode ser visto como um documentário sobre a gravação de um disco: um artista a falar do seu trabalho, pedagogia e sensualidade. É também um subtil registo das cumplicidades entre um cantor e os seus colaboradores, que são, no caso concreto, José Mário Branco e Manuela de Freitas – teia de afectos e ficções em surdina. É também a história de um homem e de um cenário, o estúdio de gravação.

O resultado é um filme, e é qualquer coisa que não cabe na gaveta “documentário sobre música”. Tem personagem dentro, Camané, figura que no seu canto também exorbita fronteiras. Bruno de Almeida olha-o (veja-se o videoclip de Sei de um Rio, aqueles movimentos em direcção a um homem na cidade) como um cineasta se ocupa da linhagem e dos valores de uma personagem – de cinema. Há um momento em Fado Camané em que o cantor, citando José Mário Branco, filia a introspecção do seu canto, de um determinado verso, no "grito abafado" de Al Pacino quando lhe mataram a filha (Sofia Coppola) no Padrinho III. É surpreende e, afinal, aparece como tão natural: é um reconhecimento de uma linhagem e estava tudo já nas imagens de solidão urbana de Sei de um Rio.

Mais novidades para a próxima edição: filme de abertura, Maïdan, ou Sergei Loznitsa a testemunhar a insurreição popular em Kiev (Ucrânia), no Inverno de 2013/14, dos comícios pacíficos às batalhas de rua entre os manifestantes e a polícia. Flash-forward para o filme de encerramento: Socialism, ensaio de Peter von Bagh sobre um grande sonho do século XX – ensaio sob a forma de mosaico, colagem que combina a História e a vida de Von Bagh, historiador de cinema.

Século XX e pesadelo, ainda: German Concentration Camps Factual Survey, documentário sobre as atrocidades alemãs nos campos de concentração, imagens compiladas com material de combate e noticiário visual dos repórteres que acompanhavam as tropas aliadas que libertavam a Europa na II Guerra – montagem que foi feita segundo as instruções de Hitchcock (as duas sessões programadas para o Doc serão seguidas de um debate com David Walsh, que chefia o departamento das Digital Collections do Imperial War Museum, que restaurou o filme.)

“Sessões especiais” desta edição: homenagem aos desaparecidos Eduardo Coutinho (Cabra, marcado para morrer, Sobreviventes de Galileia e A família de Elizabeth Teixeira), Alain Resnais (Les Statues meurent aussi, com Chris Marker, Toute la Mémoire du Monde e Nuit et Brouillard) e Harun Fraocki (Sauerbruch Hutton Architekten, Catch Phrases - Catch Images. A Conversation with Vilem Flusser, Respite). E ainda Lou Reed. A 26 de Outubro, último dia do festival e na véspera de se completar um ano sobre a morte do cantor, o Doc faz homenagem: Berlin, de Julian Schnabel, o registo das cinco noites em que Reed tocou no palco da St Ann's Warehouse de Brooklyn, 33 anos depois da sua gravação, as canções abissais do disco Berlin.

Espera-se pela confirmação dos títulos que formarão a ambiciosa proposta de leitura de uma geografia e de uma história do cinema que será a retrospectiva Neo-Realismo e Novos Realismos – ou a visceralidade do real e a sua construção pela ficção. Começará nos anos do neo-realismo italiano (L’Amore in Città, filme colectivo, assinado por Carlo Lizzani, Antonioni, Fellini, Dino Risi, Alberto Lattuada, Francesco Maselli/Cesare Zavattini, é um título importante) e chegará até aos nossos dias, ao Irão ou à Roménia, passando pelos anos 60 britânicos.