Cientistas americanos foram negligentes com amostras de Anthrax e H5N1

Agência de saúde pública dos EUA fecha dois laboratórios de alta segurança onde foram detectados incidentes graves

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Imagem da bactéria do Anthrax Anthrax Vaccine Immunization Program/AFP

“Isto nunca poderia ter acontecido”, afirmou o director dos Centros para o Controlo e Prevenção de Doenças (CDC), Tom Frieden, numa conferência de imprensa em que revelou que, só na última década, foram detectados cinco casos em que vírus ou bactérias foram tratados de forma grosseira por cientistas que tinham o dever de os guardar em segurança.

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“Isto nunca poderia ter acontecido”, afirmou o director dos Centros para o Controlo e Prevenção de Doenças (CDC), Tom Frieden, numa conferência de imprensa em que revelou que, só na última década, foram detectados cinco casos em que vírus ou bactérias foram tratados de forma grosseira por cientistas que tinham o dever de os guardar em segurança.

O último aconteceu a 5 de Junho, quando o laboratório de reacção ao bioterrorismo enviou amostras vivas de Bacillus anthracis para uma unidade de menor segurança que não estava equipada para lidar com esta bactéria, que causa uma infecção mortal tanto para animais como para homens.

“Esta não é a primeiro incidente desta natureza a acontecer no CDC, nem a primeira vez que isto acontece neste laboratório”, lê-se no relatório sobre o incidente, que só foi descoberto por acaso. Segundo a agência, 62 funcionários da segunda unidade poderão ter estado expostos aos esporos da bactéria, uma vez que trabalhavam sem equipamento protector. Nenhum apresenta sintomas da doença, mas por precaução foram-lhes fornecidas vacinas e antibióticos.

Foi já depois de abertas as investigações sobre este caso que o CDC foi informado que um dos seus laboratórios tinha acidentalmente contaminado uma amostra de uma estirpe mais benigna do vírus da gripe com a altamente patogénica versão do H5N1, enviando-a depois para uma unidade do Departamento de Agricultura, que se acabaria por aperceber que a estirpe que tinha em mãos era mais perigosa do que o previsto.

“Temos um elevado nível de confiança que ninguém esteve exposto a este vírus", disse Frieden, explicando que as amostras regressaram ao CDC com todas as medidas de contenção previstas. Mas o incidente poderia tido consequências graves – o Anthrax pode matar quem inala os esporos da bactéria, mas o H5N1 é transmissível entre humanos e tem uma taxa de mortalidade de 60% dos infectados.

As investigações revelaram ainda outros três incidentes, em 2001 e 2006, em que laboratórios do CDC lidaram de forma imprópria ou transferiram agentes altamente patogénicos para unidades sem o nível de segurança exigido.

“Desiludido e furioso” com o sucedido, Frieden anunciou que os cientistas e técnicos envolvidos nos incidentes serão disciplinados e os dois laboratórios responsáveis vão permanecer encerrados até que estejam em vigor regras mais apertadas. O responsável anunciou ainda que os laboratórios de alta segurança - referências a nível mundial - ficam, até nova ordem, proibidos de enviar ou receber material patogénico perigoso.

As conclusões do inquérito surgem dias depois da descoberta de seis amostras de varíola (doença erradicada na década de 1980) descobertas por acaso num armazém de um centro de investigação de Washington. Segundo o director do CDC, pelo menos dois dos frascos, que estavam selados e congelados, continham vírus vivo.