A arte da autodestruição

A caminhada de Portugal no Campeonato do Mundo começou com uma queda estrondosa. A selecção sofreu frente à Alemanha a mais pesada derrota de sempre em fases finais de grandes competições.

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Pepe tira a bola da área AFP PHOTO / DIMITAR DILKOFF
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Ronaldo remata para defesa de Neuer AFP PHOTO / FABRICE COFFRINI
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Adeptos AFP PHOTO / FABRICE COFFRINI
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Götze no meio de portugueses REUTERS/Jorge Silva
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Adeptos alemães AFP PHOTO / CLEMENS BILAN
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Festejos de Müller AFP PHOTO / PATRIK STOLLARZ
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Ronaldo criou perigo REUTERS/Fabrizio Bensch
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Festejos de Müller outra vez REUTERS/Darren Staples
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Golo da Alemanha REUTERS/Dylan Martinez
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Pepe expulso AFP PHOTO / FRANCOIS XAVIER MARIT/POOL
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Festa alemã REUTERS/Thomas Peter
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Terceiro golo alemão AFP PHOTO / PATRIK STOLLARZ
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Ronaldo desolado REUTERS/Darren Staples
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O saldo da estreia de Portugal no Mundial 2014 não é negativo: é muito negativo. A equipa orientada por Paulo Bento não só perdeu frente à Alemanha (4-0), como caiu vítima daquela que passa a ser a derrota mais pesada da história da selecção nacional em fases finais de grandes competições. Aos quatro golos sem resposta somou-se uma expulsão (de Pepe) e duas lesões previsivelmente graves (de Hugo Almeida e Fábio Coentrão). Portugal demorou pouco mais de meia hora a ir ao tapete e nunca mostrou argumentos para sair do Arena Fonte Nova com outro resultado. Pela segunda vez em seis participações, Portugal iniciou a participação num Mundial a perder – também tinha acontecido em 2002. As contas do Mundial complicaram-se ao primeiro assalto e a aventura tropical que será enfrentar os EUA em Manaus ficou carregada de dificuldades adicionais. A margem para errar ficou mais estreita.

A selecção portuguesa pode queixar-se de má fortuna naquela que foi a quarta derrota consecutiva frente à Alemanha. Mas isso explica apenas uma ínfima parte do que aconteceu no encontro de Salvador, porque foi sobretudo com erros próprios que Portugal deitou tudo a perder. Pepe tem particulares responsabilidades, ao fazer-se expulsar num lance sem história com Thomas Müller – tinha derrubado o avançado alemão, mas ainda foi encostar a sua cabeça na dele, vendo um desnecessário cartão vermelho – e quando o marcador já assinalava dois golos de diferença a favor da Alemanha. Uma vez em superioridade numérica, os alemães garantiram que o assunto ficava arrumado.

Ainda "cheirava a sangue" no Arena Fonte Nova, palco do memorável Espanha-Holanda em que os campeões da europa e do mundo foram inapelavelmente esmagados (1-5). Paulo Bento tinha dito na antevisão do encontro com a Mannschaft que não podiam ser feitas comparações, mas não há como contrariar o facto de que o saldo de golos do recinto baiano vai aumentando. Thomas Müller contribuiu para esse registo, com uma exibição portentosa. Encheu o campo, assinou um hat-trick e ainda protagonizou o lance que levou à expulsão de Pepe.

Nunca se viu a equipa nacional confortável em Salvador. Por incrível que pareça, a espaços, foram os alemães quem melhor pareciam lidar com o calor húmido (26º e 79% de humidade) que se faziam sentir à hora de jogo. A equipa de Joachim Löw estabeleceu o quartel-general em Santa Cruz Cabrália, precisamente no estado da Bahia, onde há uma semana está a trabalhar.

Desde o pontapé de saída que a selecção portuguesa mostrou fragilidade. Desconfortável, desconcentrada, incapaz de incomodar o adversário. Os jogadores não conseguiram esconder o nervosismo, que se traduziu em erros de palmatória. Como o de Rui Patrício, que ofereceu um golo a Khedira ao colocar-lhe a bola nos pés – mas o médio do Real Madrid, perante a baliza deserta, atirou ao lado. Ou o de João Pereira, que dentro da área puxou Götze pelo braço: penálti e vantagem alemã, com Angela Merkel na bancada a fazer a festa.

Só que a derrocada ainda mal tinha começado. Cristiano Ronaldo, que na véspera admitira que jogaria com dores, esbracejava para os companheiros de equipa, pedindo mais concentração e empenho (21’). Mas nunca se viu da equipa a necessária tensão numa partida de carácter tão importante. Hummels superou tanto Pepe como Bruno Alves no 2-0, e no período de compensação Müller tirou partido da passividade geral da defesa portuguesa para marcar o terceiro. Abundaram os passes falhados e erros individuais, denunciando desorientação pura e dura: o lance (aos 52’) em que Cristiano Ronaldo lançou a bola para uma zona onde estavam Fábio Coentrão e Nani e estes chocaram um contra o outro é elucidativo e sintomático.

Nem o facto de Joachim Löw ter sido obrigado a recorrer a quatro defesas centrais para compor a linha mais recuada foi rentabilizado por Portugal, incapaz de explorar essa potencial vulnerabilidade. Cristiano Ronaldo, saudado de forma ensurdecedora pelas bancadas quando a equipa nacional subiu ao relvado para o aquecimento, andou muito tempo escondido do jogo. O que deixa perceber que a sua condição física ainda anda longe do ideal, contrariando o optimismo das palavras dos responsáveis da federação. Na segunda parte, o capitão esteve em melhor plano, terminando o encontro como o jogador mais rematador em campo. Nani esforçou-se, apesar de as suas iniciativas terem sido na maioria inconsequentes. Foi, com Cristiano Ronaldo, quem mais trabalho deu a Manuel Neuer – que teve uma tarde relativamente descansada.

Na outra baliza, apesar do resultado, Rui Patrício não era o mais culpado. Mas o guarda-redes português associou-se à tragédia geral com uma falha comprometedora que deu à Alemanha o quarto e último golo: não segurou o remate de Schürrle, deixando a bola à disposição de Müller, que só teve de encostar.

Com seis dias de trabalho pela frente até ao encontro com os EUA, resta a Paulo Bento colar os cacos e tentar garantir que o próximo jogo seja melhor. Pior é difícil.

Ficha de jogo, estatísticas e comparação entre jogadores

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