A República da Turquia e os acontecimentos de 1915

Os últimos anos do Império Otomano foram, indiscutívelmente, um período difícil, pleno de sofrimento para milhões de turcos, curdos, árabes, arménios e demais cidadãos otomanos, independentemente da sua religião ou etnia.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Os últimos anos do Império Otomano foram, indiscutívelmente, um período difícil, pleno de sofrimento para milhões de turcos, curdos, árabes, arménios e demais cidadãos otomanos, independentemente da sua religião ou etnia.

Uma avaliação consciente, justa e humana requer uma compreensão de todo o sofrimento naquele período, sem olhar à religião ou à etnia.

Naturalmente nem a construção de hierarquias, nem a comparação ou contraste de dor e de sofrimentos tem qualquer significado para aqueles que padeceram, eles próprios, de tais sofrimentos.

Como diz um provérbio turco, “fogo onde cai queima”.

É dever da Humanidade reconhecer que os arménios, tal como qualquer outro cidadão do Império Otomano, recordam a dor sofrida neste período.

Na Turquia, a livre expressão de diferentes opiniões e pensamentos sobre os acontecimentos de 1915 é exigência de uma perspectiva pluralista, bem como de uma cultura democrática e moderna.

Alguns poderão entender esta liberdade como uma oportunidade para expressar declarações e alegações acusatórias, ofensivas, por vezes mesmo provocatórias.

Ainda assim, se tal levar a um melhor entendimento sobre os acontecimentos históricos, sobre o seu enquadramento legal, e de novo à transformação do ressentimento em amizade, é natural que se aceite com empatia e tolerância as diferentes opiniões, esperando-se uma atitude similar de todas as partes envolvidas.

A República da Turquia continuará a abordar com sabedoria todas as ideias compatíveis com os valores do Direito Universal.

No entanto, utilizar os acontecimentos de 1915 como desculpa para mostrar hostilidade para com a Turquia, tornando o assunto num conflito político, é algo inadmissível.

Os incidentes da Primeira Guerra Mundial são dor comum a todos nós. Observar este doloroso período da história pela perspectiva de uma memória justa é uma responsabilidade humana e científica.

Milhões de pessoas de todas as religiões e etnias perderam suas vidas durante a Primeira Guerra. Acontecimentos que tiveram consequências desumanas – como a deslocação – não devem impedir turcos e arménios de sentir compaixão mútua e de ter uma atitude humana para com o outro.

No mundo de hoje, inimizade decorrente da história e criação de novos antagonismos não só é inaceitável como de forma alguma útil para a construção de um futuro comum.

Apesar das diferenças, o espírito desta época requer o diálogo, a compreensão pelos outros, avaliando meios de compromisso, denunciando o ódio e louvando o respeito e a tolerância.

Com este entendimento, nós, a República da Turquia, solicitámos a criação de uma comissão histórica conjunta para analisar de forma científica os acontecimentos de 1915. Este apelo mantém-se. Uma investigação científica conduzida por historiadores turcos, arménios e internacionais desempenharia um papel importante no esclarecimento dos acontecimentos e a correcta compreensão da história.

É com esse entendimento que abrimos os nossos arquivos a todos os investigadores. Hoje, centenas de milhares de documentos dos nossos arquivos estão à disposição de historiadores.

Olhando para o futuro com confiança, a Turquia sempre apoiou estudos académicos e exaustivos para uma correcta compreensão da história. O povo da Anatólia, que viveu em conjunto durante séculos, independentemente das diferentes origens étnicas e religiosas, estabeleceu valores comuns nas mais variadas áreas desde a arte à diplomacia, da administração pública ao comércio. Hoje, continua a ter a mesma habilidade de construir um novo futuro.

É nossa esperança e convicção de que os povos de uma geografia antiga e única, que partilham hábitos e costumes semelhantes serão capazes de falar uns com os outros sobre o passado, com maturidade, e recordar as suas perdas de forma respeitosa. E é com essa esperança e crença que desejamos que os arménios, que perderam as suas vidas no contexto do início do século XX, descansem em paz, e expressamos as nossas condolências aos seus netos.

Independentemente das origens étnicas ou religiosas, prestamos homenagem, com compaixão e respeito, a todos os cidadãos Otomanos que no mesmo período e em condições semelhantes perderam as suas vidas.

Primeiro-ministro da República da Turquia