A Galiza e a Lusofonia – sem “truques”

No editorial da sua edição de 10 Abril do corrente ano, o jornal PÚBLICO, sob o título “A Galiza e o estranho mundo da lusofonia”, qualifica como um “truque” a recente (data de 11 de Março) aprovação parlamentar, por unanimidade, da Iniciativa Legislativa Popular "Valentín Paz-Andrade", que visa não só, conforme é dito, o ensino obrigatório da língua portuguesa na Galiza, como ainda o relacionamento institucional e a recepção dos mass media portugueses. Tudo isto para, como é dito no editorial, “estreitar laços com os países da lusofonia”.

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No editorial da sua edição de 10 Abril do corrente ano, o jornal PÚBLICO, sob o título “A Galiza e o estranho mundo da lusofonia”, qualifica como um “truque” a recente (data de 11 de Março) aprovação parlamentar, por unanimidade, da Iniciativa Legislativa Popular "Valentín Paz-Andrade", que visa não só, conforme é dito, o ensino obrigatório da língua portuguesa na Galiza, como ainda o relacionamento institucional e a recepção dos mass media portugueses. Tudo isto para, como é dito no editorial, “estreitar laços com os países da lusofonia”.

Com o devido respeito, não vemos onde está o “truque”. Parece-nos perfeitamente natural esse estreitamento de laços com os países da lusofonia e que isso passe, desde logo, pelo ensino da língua. O que tem sido um “truque”, ou seja, algo de totalmente artificial, tem sido a política oficial nas últimas décadas de escamoteamento da especificidade da língua e da cultura galega e do voltar de costas ao espaço lusófono. Que finalmente o Parlamento galego tenha reconhecido, por unanimidade, o óbvio, isso só pode pecar por tardio.

No editorial diz-se ainda que a medida “há-de ser aplaudida com euforia pelos que ambicionam ver a Galiza como parte da CPLP, alterando-lhe os estatutos para também receber regiões”. Tirando a referência à “euforia” (apenas porque não sou dado a esse tipo de sentimentos), assumo que aplaudo a iniciativa e que também me parece natural que a Galiza esteja institucionalmente representada na CPLP, assim como outras regiões com ligações históricas ao espaço lusófono – como, apenas para dar três exemplos, Goa, Macau e Malaca. Salvaguardando a diferença de estatuto entre regiões e países, o espaço lusófono só ficará completo quando abarcar e abraçar não apenas os países como todas essas regiões.

Tudo isto, obviamente, respeitando a vontade expressa das pessoas de cada uma dessas regiões – como foi agora o caso. Se a Galiza pretende, pois, “estreitar laços com os países da lusofonia”, não percebemos o incómodo que isso possa causar (a menos que se continue a agitar o “papão espanhol”). Se, como se escreve ainda no referido editorial, deve haver uma “relação de respeito recíproco e em total liberdade”, não compreendemos em que medida esta iniciativa põe em causa esse respeito recíproco e essa total liberdade. Foram os parlamentares galegos que (por unanimidade, reitero) votaram esta iniciativa.

Que a iniciativa seja aplaudida em Portugal e um pouco por todo o espaço lusófono, isso só pode ser visto como um bom sinal: não só do reconhecimento do nosso passado histórico comum, como, sobretudo, da importância para o nosso futuro colectivo do desígnio estratégico da convergência lusófona – no plano cultural, desde logo, mas também nos planos social, económico e político. Não por acaso: nesta quarta-feira, 16 de Abril, na Sociedade de Geografia de Lisboa, no âmbito do II Congresso da Cidadania Lusófona, o MIL: Movimento Internacional Lusófono entregará o Prémio Personalidade Lusófona ao cidadão galego (e lusófono) Ângelo Cristóvão, em reconhecimento de todo o seu incansável trabalho em prol do reforço dos laços entre a Galiza e a Lusofonia. Fica o convite. Sem “truques”.

Presidente do MIL: Movimento Internacional Lusófono

www.movimentolusofono.org