Uma lição de coisas

O que a crise da Crimeia claramente deixou ver foi que a América já não é uma potência global.

Isto bastou para que “eurófilos” de vária pinta viessem falar do fracasso de Putin, da “aproximação da Europa e da América” e do “isolamento” da Rússia; e a farsa, apoiada pela viagem de Obama a Bruxelas, convenceu quem se quis convencer.

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Isto bastou para que “eurófilos” de vária pinta viessem falar do fracasso de Putin, da “aproximação da Europa e da América” e do “isolamento” da Rússia; e a farsa, apoiada pela viagem de Obama a Bruxelas, convenceu quem se quis convencer.

Infelizmente, as coisas são, de maneira geral, ao contrário. Em primeiro lugar, o Ocidente demonstrou ao mundo inteiro que recusa um novo conflito, na Ucrânia ou no pólo Norte: a América porque, ao fim de uma guerra perdida no Iraque e no Afeganistão, o eleitorado está maciçamente contra uma nova aventura; a Europa porque não tem dinheiro, nem poder militar para ameaçar ninguém (Obama até pediu que a França, a Inglaterra e a Alemanha investissem em armamento um pouco mais do que investem hoje). E, em segundo lugar, porque, longe de ficar “isolada”, a Rússia continua, imperturbável, a receber investimento americano, alemão e até francês; e a absorver uma parte vital do que a Alemanha e a Inglaterra exportam. Com ou sem declamações para consumo popular, os negócios não vão ser perturbados.

A Rússia, disse Obama, é uma “potência regional”. Este exemplo de arrogância, e de inconsciência, não muda a realidade. O que a crise da Crimeia claramente deixou ver foi que a América já não é uma potência global. Não admira que a China se aproximasse da Rússia; e que, na África e na Ásia, se fale cada vez com maior insistência na “hipocrisia americana” (para não falar na “hipocrisia europeia”). Como não admira que a sra. Merkel, depois de se aliviar de umas frases pias, se preocupasse sobretudo em defender o interesse económico da Alemanha na Federação Russa. A América e a Europa saíram muito mal da suposta “confrontação” com Putin: sem unidade e sem iniciativa. Pior ainda: tão “apaziguadores” como os velhos de 1930, anunciaram em Bruxelas que reservam a sua verdadeira cólera para o caso de a Rússia persistir numa política de expansão, que Putin, por enquanto, rejeita. Mas que, se a confusão e a irresponsabilidade do Ocidente não acabarem depressa, não rejeitará sempre.