Líder da oposição venezuelana pode ser condenado a dez anos de prisão

Contestação ao chavismo alastrou a várias cidades do país. Maduro ameaça militarizar San Cristóbal, um dos locais onde nasceu o protesto.

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López entregou-se à polícia na terça-feira, durante a grande manifestação em Caracas contra o Governo e o regime chavista. Depois de detido, foi levado para a prisão de Ramo Verde, nos subúrbios de Caracas, onde foi a audiência em que foi acusado. A sessão, que deveria ter-se realizado na quarta-feira no Palácio de Justiça da capital, só teve lugar na madrugada de quinta e dentro de um “tribunal móvel”.

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López entregou-se à polícia na terça-feira, durante a grande manifestação em Caracas contra o Governo e o regime chavista. Depois de detido, foi levado para a prisão de Ramo Verde, nos subúrbios de Caracas, onde foi a audiência em que foi acusado. A sessão, que deveria ter-se realizado na quarta-feira no Palácio de Justiça da capital, só teve lugar na madrugada de quinta e dentro de um “tribunal móvel”.

As autoridades explicaram que não quiseram levar López de volta para Caracas para preservar a sua segurança. A oposição — que na Venezuela está unida numa coligação chamada Mesa de Unidade Democrática; estão lá todos os partidos que são contra o regime socialista bolivariano fundado por Hugo Chávez — denunciou a manobra. À porta do Palácio tinham-se juntado milhares de pessoas em apoio a López e dando continuidade aos protestos que duram há quase três semanas e alastraram a muitas cidades do país.

Esta quinta-feira, a oposição chamou os apoiantes para a porta da prisão de Ramo Verde, onde Leopoldo Lópes deverá ficar 45 dias, o tempo que o Ministério Público crê ir durar o processo. O diário espanhol El País dizia que, na capital, uma zona tornava-se o centro da contestação, a Praça França. Ali, na noite de quarta-para quinta, a polícia avançou sobre os manifestantes com granadas de gás lacrimogéneo. A polícia motorizada avançou com os veículos para cima das pessoas.

À porta da prisão, o advogado de López, Juan Carlos Gutiérrez, disse aos jornalistas que na segunda-feira irá apresentar ao Ministério Público “provas sólidas” sobre a inocência do opositor: “Os juízes vão ficar convencidos de que os referidos delitos não existem.”

López, que é o líder do Vontade Popular, lançou um movimento de contestação ao regime aproveitando a onda de protestos iniciada pelos estudantes do ensino superior contra a criminalidade galopante na Venezuela — mais de 15 mil assassínios no ano passado. A campanha catapultou-o para a liderança da oposição, deixando para trás Henrique Capriles, líder do Primeiro Justiça e que por pouco não derrotou Nicolás Maduro nas presidenciais do ano passado, realizadas após  amorte de Chávez, em Março.

Com López na prisão, Capriles — da ala moderada da oposição; Lópes está na classificada de mais radical — tentou tomar as rédeas da contestação. Na verdade, tentou controlá-la, apelando à luta não violenta, uma vez que na Venezuela parece estar a acontecer uma escalada de conflituosidade.

138 feridos, 89 detidos
Segundo o jornal La Patilla (conotado com a oposição mas que explica ter confrontados dados dos manifestantes e do Governo), na quarta-feira 138 pessoas ficaram feridas (pelo menos duas com gravidade) e 89 foram detidas pela polícia. Outros jornais relatavam os confrontos da noite de quarta e madrugada de quinta entre manifestantes anti-Governo e grupos de apoiantes — brigadas organizadas e armadas — que terão sido chamadas para limitar ou neutralizar os manifestantes.

Não se sabe ao certo quem activou estas brigadas civis de defesa da revolução chavista — o governador de Carabobo, Francisco Ameliach, disse que a ordem partiu do presidente do Parlamento, Diosdado Cabello  —, mas Maduro já disse que não vai permitir que se “diabolize” a sua actuação.

No total, desde o início dos protestos, morreram seis pessoas, no caso de quatro delas já foi confirmado que foram vítimas de disparos.

Outro jornal, El Universal, explicava que assim que a noite caiu, na quarta-feira, começaram os confrontos mais violentos em Caracas — que ao amanhecer tinha um intenso cheiro a queimado — e nas outras cidades onde há revoltas: Maracaíbo, Barquisimeto, Maracay, San Juan de los Morros, Valência, Carupano, Puerto Ordaz, San Fernando de Apure e San Cristóbal.  

Esta quinta-feira, o Presidente Nicolás Maduro anunciou que devido ao "grave problema de ordem pública que se vive em San Cristóbal", pode militarizar todo o estado de Táchira (na fronteira com a Colômbia). O Estado de Excepção pode ser instaurado disse. O ministro do Interior e Justiça, Miguel Rodríguez Torres, já tinha anunciado que devido "aos protestos dos cidadãos" o porte de armas estava proibido e que tinham sido enviados reforços policiais para este estado.

Os analistas frisavam que é a primeira vez desde que o "socialismo do século XXI"  — como lhe chamava Chávez —  foi instaurado na Venezuela que pode ser declarado o Estado de Excepção no país. Chávez não o fez nem quando teve lugar uma tentativa de golpe contra si, em 2002. Mas Maduro classificou o que está a acontecer em San Cristóbal como um "complot" do presidente da câmara, Daniel Ceballos, que, aliado a paramilitares e "grupos criminosos da Colômbia" querem transformar a cidade na "Bengasi da Venezuela". "Não permitiremos", disse Maduro, nem que seja preciso enviar tropas, tanques e aviões militares.

San Cristóbal, explica o El País, fui uma das cidades onde começou a vaga de contestação ao Governo e regime.

Embate EUA-Venezuela
Na quarta-feira à noite, o Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, pediu a Nicolás Maduro para libertar "todos" os detidos nos protestos e considerou a violência "inaceitável". Já esta quinta-feira, o Governo de Maduro reagiu considerando as declarações de Obama "uma nova e grosseira ingerência nos assuntos" venezuelanos com a "circunstância agravada de usar uma informação falsa e fazer  afirmações sem fundamento".

As relações entre os EUA e a Venezuela estão, de novo, no ponto zero. Caracas expulsou três diplomatas americanos por suspeita de conspiração (Maduro diz que os EUA estão a ajudar a oposição numa tentativa de golpe de Estado e por detrás dos problemas económicos da Venezuela), o Governo de Washington respondeu dizendo que deverá retaliar também com expulsões. 

Para já, Obama foi o segundo líder do continente americano a dirigir-se às autoridades venezuelanas devido à instabilidade social e política na Venezuela. No domingo, os países do Mercosul e os associados – Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Bolívia, mais Chile, Colômbia, Equador e Peru – emitiram um comunicado de apoio ao Governo venezuelano: "Os estados-membros reiteram o seu firme compromisso com a plena vigência das instituições democráticas e rejeitam as acções criminosas dos grupos violentos que querem disseminar a intolerância e o ódio na Venezuela como instrumento da luta política". Mas, na terça-feira, dia das grandes manifestações de Caracas (o Governo também organizou uma em seu apoio), o Presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, disse estar "preocupado" com o que se estava a passar; Maduro respondeu-lhe que não se devia meter em assuntos que não são seus.