Algarve constrangido

A economia do Algarve, com destaque especial para o turismo, merece uma atenção especial.

Dentro da crise em que vivemos há meia dúzia de anos, o panorama do Algarve, para um observador razoavelmente atento é ainda mais preocupante. Por coincidência, além dos problemas gerais, aqui sentem-se no concreto, entre outros, os seguintes constrangimentos:

- As obras de requalificação da estrada nacional 125 estão paradas há quase dois anos e sem horizonte claro para a sua retoma;

- As obras portuárias estão prometidas e adiadas, desde há muitos anos;

- As dragagens da ria Formosa e do rio Arade têm sido sucessivamente prometidas e adiadas, há muito tempo;

-A desejada autoridade regional de coordenação dos transportes tem sido prometida desde há cerca de 10 anos, por muitos responsáveis, mas nada aconteceu ate hoje;

- A ligação ferroviária ao aeroporto de Faro, prometida tantas vezes,  até durante a presente crise, mas sempre adiada;

- Na reorganização dos serviços públicos, o Algarve perde para Lisboa e para Sines, serviços diversos, ou assiste ao encerramento de outros. A direcção regional de economia, os serviços portuários, as extensões de saúde, os tribunais, as Finanças, etc., enquadram-se neste contexto;

- A Globoalgarve, agência regional de desenvolvimento a qual criou com visão de futuro o Algarve Digital, agora definha;

- As principais câmaras municipais, em termos de dívida, ainda não viram aprovadas em definitivo os financiamentos de algumas centenas de milhões de euros;

- Continuamos com associações empresariais a mais e força a menos, por dispersão e incapacidade de se corrigir esta situação;

- Por ineficiência de gestão da rede de distribuição de água, os municípios perdem cerca de 10 milhões/ano de água não facturada. Com excepção de Faro, Portimão e Tavira, nos restantes o problema é muito acentuado;

Perante tudo isto e algo mais sente-se um quadro de silêncio resignado, salvo episódios pontuais, sem consequência visível.

Sabe-se que nos tempos que correm não há dinheiro para investimento público, mas certas decisões não acrescentam despesa, bem pelo contrário. É o caso da criação da autoridade regional de transportes, da fusão de associações empresariais, da eficiência de gestão da água e da energia ou a transformação da divida de curto em longo prazo dos municípios.

Estamos nas primeiras semanas de um novo ciclo de sete anos dos fundos europeus, em que o Algarve terá que ser capaz de aproveitar bem este impulso na sua economia, escolhendo bem os executantes e as prioridades do tipo de candidaturas.

Os reais e legítimos detentores do poder regional (político e empresarial), têm que unir esforços e conceber uma agenda estratégica naquilo em que podem unir e cerrar fileiras em defesa dos interesses da região e das suas populações.

A efectiva influência da região nas esferas de decisão e nos meandros do poder está pouco visível, perante um quadro e um contexto que não são fáceis.

No panorama nacional somos poucos e a região é pequena, no entanto a economia do Algarve, com destaque especial para o turismo, merece uma atenção especial.

Quem cala consente.

Se não é isto o que se passa, pelo menos é o que parece.

Ex-presidente da Câmara de Faro
 
 
 

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