Bloco concorre sozinho às europeias e afasta em definitivo coligação com LIVRE

Direcção do Bloco desvaloriza “acidente de percurso” que configura saída de Ana Drago. 3D assume falhanço de candidatura convergente e recusa negociar apenas com o BE.

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Uma é não prescindir de uma candidatura própria às eleições, encabeçada por um dirigente bloquista, provavelmente a eurodeputada Marisa Matias, e a outra é não ficar politicamente refém de qualquer movimento ou partido em fase de constituição. Mas a verdadeira “pedra no sapato” chama-se LIVRE, o projecto político do eurodeputado Rui Tavares que terá o seu congresso fundador já este fim-de-semana.

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Uma é não prescindir de uma candidatura própria às eleições, encabeçada por um dirigente bloquista, provavelmente a eurodeputada Marisa Matias, e a outra é não ficar politicamente refém de qualquer movimento ou partido em fase de constituição. Mas a verdadeira “pedra no sapato” chama-se LIVRE, o projecto político do eurodeputado Rui Tavares que terá o seu congresso fundador já este fim-de-semana.

Esta segunda-feira, em Braga, nas jornadas parlamentares do partido, o Bloco evitou o assunto da saída de Ana Drago. Confrontado sobre se a direcção sai fragilizada, o coordenador João Semedo começou por dizer que não queria falar do assunto, mas acabou por sublinhar a pequena dimensão da saída se comparada com a grandeza do partido.

“O BE vai muito para além da sua direcção dos seus dirigentes, de mim próprio, da Ana Drago. O BE é muito maior do que isso tudo, são acidentes de percurso, pormenores da vida interna do Bloco”, disse no final de uma reunião com a administração do hospital de Barcelos.

Ao PÚBLICO, o líder confessou que acha que Drago “não tem razão” e que “um partido faz-se de concordâncias e discordâncias”.

A “divergência profunda e fundamental sobre a estratégia do BE na pressente conjuntura”, expressa por Drago, prendeu-se agora com o que considerou ser a indisponibilidade do partido para iniciar um debate programático com todos, incluindo o LIVRE. Mas há vários meses, ainda antes de ter renunciado ao mandato de deputada em Agosto, que Ana Drago contestava as escolhas do partido. Defendeu, aquando da saída da liderança de Francisco Louçã que havia “alternativas a uma liderança bicéfala”, que devia ser protagonizada apenas por Semedo.

A direcção do BE resolveu esta segunda-feira quebrar o silêncio oficial a que tem estado remetida sobre a questão Rui Tavares, desde a ruptura em Junho de 2011. O partido nunca digeriu a saída do eurodeputado eleito nas suas listas para o grupo dos Verdes europeus e ontem Semedo reagiu assim a uma possível candidatura unitária do Bloco, LIVRE e 3D, tal como proposto por este último: “É um pouco ridículo que se fale em exclusão a propósito de quem se auto-excluiu. Estamos a falar de Rui Tavares, foi eleito eurodeputado pelo BE, o BE convidou Rui Tavares para as suas listas, não o convidou a sair do seu grupo no Parlamento Europeu. Saiu porque quis.”

Os promotores do Manifesto 3D – entre eles, os economistas Ricardo Paes Mamede e José Reis, o ex-bloquista Daniel Oliveira ou o ex-secretário-geral da CGTP Carvalho da Silva, que não participou dos encontros - pediram reuniões à direcção do BE, à comissão instaladora do LIVRE e à Renovação Comunista para negociação de uma convergência que permitisse uma candidatura única às europeias.

Ao que o PÚBLICO apurou, no encontro com o BE foi proposto pelo 3D a criação de “um partido envelope” para as europeias. O Bloco recusou e contrapôs com um acordo político alargado, sem o LIVRE. Aos bloquistas, tal como o PÚBLICO já tinha noticiado, nunca agradou a forma como este processo de convergência foi conduzido desde a primeira hora. A exposição pública da iniciativa pela parte do 3D acrescida da ruptura com Rui Tavares não auspiciava um destino conjunto.

Ainda esta segunda-feira, os promotores do 3D - que levaram às reuniões as bases programáticas de uma candidatura conjunta e a composição da lista de candidatos, sem no entanto terem sido discutidos nomes em concreto -, deram nota do falhanço da iniciativa.

A intenção era que a convergência para as europeias servisse de rampa de lançamento para as legislativas de 2015. E com o objectivo claro de evitar um governo de bloco central que caia na tentação de rever a Constituição. Mas se nos encontros realizados houve “concordância com a necessidade de convergência” e com o programa elaborado pelo 3D, “não foi possível encontrar uma solução inclusiva que se traduzisse numa plataforma eleitoral comum a concretizar já nas próximas eleições europeias”.

Ao PÚBLICO, Ricardo Paes Mamede confirma que não faria sentido, nesta fase, sentar dois à mesa. O manifesto 3D assumiu o compromisso de “uma base institucional o mais alargada possível e trata-se agora de uma questão de lealdade com os subscritores”.

Sobre a contraproposta do BE, o economista reage assim ao pedido de compromisso a dois: “Não estamos agora em condições de iniciar esse processo, mas registamos que fica uma porta aberta”.