Em Davos, ninguém arrisca dizer que crise já acabou

Durão Barroso disse que a Europa ainda não saiu da turbulência económica. E Pires de Lima foi cauteloso quanto à situação nacional: a “euforia é um estado de espírito perigoso”, afirmou.

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Pires de Lima diz que no PSD “também há vozes que defendem a descida fiscal o mais depressa possível”. Rui Gaudêncio

António Pires de Lima, ministro da Economia, seguia o mesmo raciocínio, também em Davos, mas numa entrevista à cadeia de televisão norte-americana CNBC. A descida das taxas de juro ou a subida da bolsa não são sinais suficientes para dizer que, em Portugal, o pior já passou. “Não podemos ficar demasiado entusiasmados. A euforia é um estado de espírito muito perigoso”, disse. E acrescentou: “Temos de continuar confiantes porque estamos a fazer um trabalho muito árduo para obter resultados”.

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António Pires de Lima, ministro da Economia, seguia o mesmo raciocínio, também em Davos, mas numa entrevista à cadeia de televisão norte-americana CNBC. A descida das taxas de juro ou a subida da bolsa não são sinais suficientes para dizer que, em Portugal, o pior já passou. “Não podemos ficar demasiado entusiasmados. A euforia é um estado de espírito muito perigoso”, disse. E acrescentou: “Temos de continuar confiantes porque estamos a fazer um trabalho muito árduo para obter resultados”.

No final do programa de ajustamento, que terá a última avaliação feita pela troika em Maio, ainda não se sabe se Portugal consegue evitar um segundo empréstimo, se avança para um programa cautelar ou se consegue terminar este processo sem mais ajudas. Pires de Lima coloca duas hipóteses em cima da mesa: ou o cautelar ou a chamada saída “limpa”. Ambas “estão em aberto e é bom termos a liberdade de escolher até três ou quatro semanas antes do final do programa”, disse.

O mais importante, agora, é ver a economia a recuperar, com o empurrão das exportações. “Este é um aspecto crítico: as pessoas acreditarem que fazer negócios em Portugal pode ser uma vantagem na conquista de quota de mercado, não só na Europa, mas também em África e na América do Sul”.

Na sala de conferências onde, nesta quinta-feira, se debateu a competitividade europeia, falou-se dos países “que viveram acima das possibilidades” (Portugal incluído) e de salários adaptados à produtividade. Durão Barroso lembrou que as previsões mais negras do fim do euro ou da saída da Grécia da UE não se concretizaram, mas a taxa de desemprego (10,8% em média nos 28 Estados-membros e 15,5% em Portugal, segundo o Eurostat) ainda não deixa ninguém dizer que a turbulência acabou. O presidente da Comissão Europeia defendeu que não há um modelo único para contornar a crise, nem se pode afirmar que o que funcionou para a Irlanda funciona com outros países. “O que temos é de trabalhar para aumentar a competitividade dos países e agir a nível europeu para reforçar o comércio interno e internacional”, defendeu.

Por seu lado, Angel Gurría, secretário-geral da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), criticou os países (como Portugal) onde os salários estiveram, durante 15 anos, muito acima da produtividade. A Irlanda “conseguiu convergir com os salários reais, adaptados à economia”, mas “nem todos chegaram ao ponto de inflexão, nem estão na mesma velocidade”, disse, acrescentando que “as diferenças competitivas mantêm-se”. Gurría afirmou ainda que está na hora de “ir para a segunda geração de reformas”. Desta vez, focadas na educação e na inovação.

Durante o debate – em que Enda Kenny, primeiro-ministro da Irlanda, defendeu que a criação de emprego está nas mãos de novas empresas – Durão Barroso recordou um comentário do ex-chanceler alemão Helmut Kohl feito em 1993, quando Jacques Delors apresentou o relatório de competitividade: “O que interessa é que os nossos países [da União Europeia] não vivam acima das possibilidades”. Barroso sublinhou que a Irlanda, Portugal, Espanha, Grécia e Itália “faziam exactamente isso” e tinham custos laborais acima da produtividade.

Neste cenário de prudência quanto ao fim da indesejada crise, o mediático Nouriel Roubini também alinhou na mesma tendência. Numa entrevista à Bloomberg, numa emissão televisiva feita a partir de Davos (e citada pela Lusa), disse que “o pior da crise ficou para trás em termos de riscos financeiro”, mas ainda há incertezas. O economista, conhecido como o “doctor doom” [doutor catástrofe] prevê que a inflação se mantenha baixa e que o crescimento das grandes economias seja melhor, mas abaixo do seu potencial.