Apoio do PS ao inquérito sobre estaleiros leva PSD a falar de "negociata"

Enquanto não houver certeza de que o inquérito parlamentar avança, a comissão de Defesa suspendeu as audições sobre o assunto.

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Grupo russo integra os estaleiros navais de Viana do Castelo nos seus planos de expansão Paulo Ricca

Depois de se saber que um grupo de 22 deputados socialistas se tinha disponibilizado para assinar o requerimento potestativo para a constituição da comissão, o PSD denunciou violentamente uma “negociata”, onde acusava o PS de tentar limitar o alcance da investigação parlamentar.

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Depois de se saber que um grupo de 22 deputados socialistas se tinha disponibilizado para assinar o requerimento potestativo para a constituição da comissão, o PSD denunciou violentamente uma “negociata”, onde acusava o PS de tentar limitar o alcance da investigação parlamentar.

Em causa estavam os anos de gestão relativos aos mandatos dos Governo de José Sócrates. "O PSD entende que tem de ser denunciado o facto de haver diferenças entre a proposta de comissão de inquérito do PCP feita em Dezembro e a proposta que agora está em cima da mesa. Há um a redução incompreensível quer do objecto temporal, quer do objecto material desta comissão inquérito", referiu Mónica Ferro.<_o3a_p>

Segundo a deputada do PSD, os socialistas – cujas assinaturas são essenciais para o total de 46 necessários para avançar com o requerimento potestativo (obrigatório) – estariam a tentar limitar o inquérito aos dois últimos anos e meio, ou seja, os relativos ao mandato do actual Governo. Classificou mesmo a situação como uma “negociata”.<_o3a_p>

Em causa estava a suspeita de ter sido retirado do requerimento e do âmbito da comissão o falhanço na venda do ferryboat Atlântida - que o socialista Governo regional dos Açores rejeitou alegando não cumprir os requisitos contratualizados - e as “sucessivas administrações” da empresa.<_o3a_p>

Nos corredores do Parlamento ganhava consistência a percepção de que a maioria – caso o inquérito se circunscrevesse aos últimos dois anos e meio – poderia responder com um bloqueio à comissão. Para tal bastaria não apresentar nomes de deputados para a composição da comissão, retirando assim quórum e inviabilizando os trabalhos.<_o3a_p>

Foi, aliás, isso que fez o PS em Fevereiro do ano passado quando a maioria aprovou a criação de uma comissão para a Reforma do Estado.<_o3a_p>

A acusação levou o PCP  a reagir poucas horas depois. O vice-presidente da bancada comunista, António Filipe, garantiu que o objecto do inquérito seria "abrangente", incluindo eventuais responsabilidades tanto no tempo dos Governos do PS como do PSD.<_o3a_p>

"O nosso objectivo é que seja apurado tudo aquilo que é necessário apurar relativamente a responsabilidades de quem as teve relativamente à situação a que chegaram os estaleiros navais de Viana do Castelo e aqui não fazemos discriminação nenhuma entre responsabilidades de governos de PSD, responsabilidades de governos do PS, responsabilidades de administrações nomeadas pelo PSD, de administrações nomeadas pelo PS", afiançou António Filipe.<_o3a_p>

Também o deputado socialista Jorge Fão veio a público repudiar o ataque do PSD. “Há vários factos em concreto que poderão englobar-se na definição do número dois do requerimento, como a análise do protelamento e não conclusão de encomendas várias nos estaleiros navais de Viana do Castelo”, alertou.<_o3a_p>

Por seu turno, o CDS manifestou confiança de que o requerimento não teria o seu âmbito amputado. "Não acredito que o PCP queira apenas questionar algumas matérias, deixando de fora outras. Não está na prática política do PCP fazer isso, por isso não acredito que o PCP queira fazer isso", disse o deputado do CDS-PP Abel Baptista.<_o3a_p>

Por entre a troca de acusações e reacções, a comissão de Defesa decidiu suspender as audições agendadas e por agendar sobre os Estaleiros Navais, antecipando a previsível formação da comissão de inquérito. A proposta surgiu do presidente da comissão por entender que as actuais audições teriam de ser repetidas no âmbito do inquérito.<_o3a_p>

"O melhor será dispensarmos todas as audições marcadas e por marcar, uma vez que não faz sentido repetir audições", sugeriu o deputado socialista Marcos Perestrelo, logo no início dos trabalhos.<_o3a_p>

Mas foi um deputado da maioria que aconselhou mais prudência. “O processo deste potestativo ainda não está terminado”, começou por alertar João Rebelo, com o argumento de possíveis “divergências entre o PCP e os deputados do PS que subscreveram o requerimento”.

O centrista aconselhou como alternativa apenas “suspender o agendamento de amanhã [a comissão ouviria a Comissão de Trabalhadores dos ENVC esta quarta-feira]” para depois se ponderar o que fazer. Dependendo do que poderia “acontecer na sexta-feira”, dia da votação do requerimento que é entregue quarta-feira.<_o3a_p>