Toma o comprimido que isso passa

A concurso em Berlim, Efeitos Secundários ou a despedida de Steven Soderbergh do cinema em modo divertimento de género.

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O actor Jude Law, o realizador Steven Soderbergh e a actriz Rooney Mara AFP PHOTO / GERARD JULIEN

Como “ponto final”, há que dizê-lo, Efeitos Secundários (estreia em Portugal a 7 de Março) não é um Soderbergh de primeira água como o foram Ocean's Eleven ou Traffic, nem uma das suas experiências menos evidentes como Bubble ou Vidas a Nu. É, antes, mais um eficiente e eficaz exercício de género como talvez só Soderbergh ainda seja capaz de fazer hoje em dia: um policial mais ou menos clássico que actualiza a velha história do bode expiatório apanhado numa conspiração que o transcende para o moderno mundo dos fármacos.

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Como “ponto final”, há que dizê-lo, Efeitos Secundários (estreia em Portugal a 7 de Março) não é um Soderbergh de primeira água como o foram Ocean's Eleven ou Traffic, nem uma das suas experiências menos evidentes como Bubble ou Vidas a Nu. É, antes, mais um eficiente e eficaz exercício de género como talvez só Soderbergh ainda seja capaz de fazer hoje em dia: um policial mais ou menos clássico que actualiza a velha história do bode expiatório apanhado numa conspiração que o transcende para o moderno mundo dos fármacos.

Há uma mulher deprimida (Rooney Mara, a Lisbeth Salander de David Fincher) a quem um psiquiatra de sucesso (Jude Law, muito sóbrio e muito à vontade) receita um novo anti-depressivo. Sob o efeito do medicamento, ela mata o marido recém-saído da prisão, mas é a reputação do médico que é posta em causa – e, confrontado com o risco de perder emprego, licença e família, começa a investigar e percebe que a história é muito mais complicada do que parece à primeira. E, neste tipo de filmes, é sempre.

Daí que, como “despedida” mais ou menos anunciada, Efeitos Secundários saiba a pouco: é um policial escorreito, desempoeirado, que Soderbergh dirige com a desenvoltura e a economia que lhe conhecemos, mas falta-lhe o rasgo de diferença, de humor, de energia, que o cineasta trouxe, por exemplo, ao recente Uma Traição Fatal. Essa moleza até faz algum sentido – tudo gira à volta de anti-depressivos, que não são conhecidos por darem energia – mas joga contra o filme. E é pena.