Há uma cidade na China que quer ficar parecida com o Porto

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Chineses inspiram-se no Porto para captar turistas europeus Foto: Paulo Pimenta

Anshun é uma cidade no Sudoeste da China com 2,96 milhões de habitantes espalhados por 9267 quilómetros quadrados e que vive sobretudo do turismo - ou não tivesse a maior queda de água do país. Mas Anshun quer mais para aumentar as receitas e alargar a capacidade hoteleira que já não chega para as encomendas. Quer aproveitar os socalcos do seu território para ficar parecida com cidades europeias. E o exemplo surge na edição de domingo do jornal China Daily. A foto que aparece para ilustrar as intenções é um "postal" do Porto com o rio à vista.

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Anshun é uma cidade no Sudoeste da China com 2,96 milhões de habitantes espalhados por 9267 quilómetros quadrados e que vive sobretudo do turismo - ou não tivesse a maior queda de água do país. Mas Anshun quer mais para aumentar as receitas e alargar a capacidade hoteleira que já não chega para as encomendas. Quer aproveitar os socalcos do seu território para ficar parecida com cidades europeias. E o exemplo surge na edição de domingo do jornal China Daily. A foto que aparece para ilustrar as intenções é um "postal" do Porto com o rio à vista.

É conhecido o gosto chinês pela criação de réplicas de cidades europeias. Há vários exemplos no país - imitando a Veneza dos canais ou Barcelona. E Anshun não quer ficar atrás. Captar a atenção dos turistas europeus é o motivo que, neste momento, move a cidade chinesa. Nos planos, está a criação de um parque de diversões com 60 hectares, uma espécie de cidade europeia em miniatura, com atracções de vários países. Em Portugal, as atenções recaíram nas touradas.

O Centro Hípico Dom Cavalo, em Leiria, está envolvido no projecto. Miguel Condeço e Cidália Cardoso não querem, por enquanto, revelar pormenores. A presença da Dom Cavalo é, no entanto, dada como certa no empreendimento chinês, ficando responsável por montar espectáculos equestres à portuguesa com tourada, abrir escolas de equitação e criar cavalos lusitanos em Anshun.

A vontade de importar touradas, segundo o China Daily, já despertou o interesse de empresas espanholas. Uma praça de touros sairá entretanto do papel com uma capacidade para 6000 espectadores. O projecto chinês, que deverá estar concluído nos próximos dez anos, prevê ainda um investimento imobiliário: construção de hotéis de luxo, restaurantes, cinemas, centros comerciais.

Yang Kaihua, director do Huangguoshu Scenic Area Working Committee, citado pelo China Daily, fala na construção de uma cidade europeia. "Esperamos que o projecto atraia mais de quatro milhões de turistas todos os anos e, portanto, venha a gerar mais receitas para a economia local", sustenta. No ano passado, graças a 18,5 milhões de visitantes (um por cento estrangeiros), a receita com o turismo rondou os 2,3 mil milhões de euros.

São João da Madeira está de olho em Anshun, mas não no parque de diversões. Há um processo de geminação em curso entre as duas cidades. "Sou presidente de câmara há 11 anos e nunca promovi nenhuma geminação, mas se o vier a fazer será, com certeza, com uma cidade chinesa", adianta ao PÚBLICO Castro Almeida, presidente da câmara são-joanense. "É para a China que temos de divulgar o nosso potencial produtivo. É uma zona do mundo demasiado importante e cheia de oportunidades, mas que tem passado ao lado das nossas prioridades", acrescenta.

Aveiro também terá ligações a Anshun. Na próxima semana, o vice-reitor da Universidade de Aveiro, Carlos Pascoal Neto, viajará para a região de Guizhou, onde está Anshun, para assinar um protocolo com a universidade, no sentido de proporcionar em Portugal uma especialização na área do turismo a grupos de 20 a 30 alunos chineses. Um ensino pós-graduado que, neste momento, a região não possui. A colaboração de Aveiro deverá entretanto esticar-se a Anshun. "Em Anshun, está a ser feito um grande investimento em hotelaria e a Universidade de Aveiro está disponível para apoiar a criação de uma escola de turismo", revela o vice-reitor.

Mandarim nas escolas de São João da Madeira

A partir de Janeiro do próximo ano, os alunos do 3.º ano das escolas primárias de São João da Madeira começam a aprender mandarim. No início do ano lectivo de 2013/2014, as crianças dos 3.º e 4.º anos do 1.º ciclo das nove escolas primárias do concelho também aprenderão chinês. O Departamento de Línguas e Culturas da Universidade de Aveiro assume a coordenação científica e pedagógica ao garantir os professores, maioritariamente chineses.


A câmara são-joanense quer mais e espera que lhe seja dada autorização, por parte do Ministério da Educação, para criar turmas bilingues português-mandarim do 1.º ao 12.º ano de escolaridade, nas escolas públicas da cidade. O número de turmas dependerá da procura e o modelo pedagógico seguirá os passos de alguns dos melhores colégios privados do país no ensino bilingue noutras línguas, como o Colégio Alemão, o Liceu Francês ou a St. Julian"s School.

E não é tudo. A câmara está disponível para comparticipar a 50% os estudos de mandarim no Instituto de Línguas de São João da Madeira para crianças e adultos residentes no município. "Será uma mais-valia enorme para São João da Madeira e para esta região se, dentro de 10, 12 anos, houver 200 a 300 pessoas a falarem e a exprimirem-se correctamente em chinês", referiu Castro Almeida, aquando da divulgação da iniciativa.