Regresso dos Ornatos Violeta enche Paredes de Coura

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Manel Cruz em repetidos agradecimentos ao público: “Não sei o que dizer” Paulo Pimenta

A recepção não podia ser mais forte: a noite de sexta-feira foi, sem sombra de dúvidas, uma das mais concorridas da história do festival minhoto, o que para prenda de 20.º aniversário não está nada mau.

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A recepção não podia ser mais forte: a noite de sexta-feira foi, sem sombra de dúvidas, uma das mais concorridas da história do festival minhoto, o que para prenda de 20.º aniversário não está nada mau.

Numa edição sem muitos nomes de peso, esse papel coube aos Ornatos, que praticamente fecharam o festival (os mais resistentes continuaram a festa no palco Vodafone FM com a disco negra dos Chromatics e Sunta Templeton).

Tanque

, dizíamos, foi a primeira canção do concerto dos Ornatos Violeta, cuja primeira parte seguiu na íntegra o alinhamento do segundo e último álbum do grupo, o imaculado

O Monstro Precisa de Amigos

(1999).

Dir-se-ia que não passaram dez anos sobre a despedida: a banda tocou na perfeição os 13 temas daquele disco, do rock de O.M.E.M. (o peso dos riffs de Peixe em contraste com os sombrios teclados de Elísio Donas) à introspecção de pelúcia de Deixa morrer.

Ouvi dizer

teve a previsível recepção eufórica, mas, nas filas da frente, onde o PÚBLICO viu o concerto, a devoção era plena: todas as palavras, da primeira à última, eram cantadas por milhares de pessoas. E os devotos ali presentes eram, na sua maioria, adolescentes ou pós-adolescentes, o que confirma que a adoração aos Ornatos Violeta explodiu com a banda já extinta.

No palco, a emoção era também evidente, com sorrisos cúmplices entre os músicos e Manel Cruz em repetidos agradecimentos ao público. “Não sei o que dizer”, confessou.

Saíram do palco depois de reverem O Monstro Precisa de Amigos, mas voltaram duas vezes para apresentar canções mais obscuras – nem sombra de Cão!, o outro álbum dos Ornatos (tal ficará, certamente, para os quatro concertos nos coliseus do Porto e de Lisboa, em Outubro).

Mostraram canções que podiam ter entrado em O Monstro, mas que ficaram na gaveta; foram a 1993 (“muito antes do Cão!”, lembrou Cruz) buscar uma canção que quase ninguém ouviu, A metros de si; recuperaram Tempo de nascer, incluída na compilação Tejo Beat, de 1998, velha preferência dos fãs mais conhecedores.

Dead Combo consagrados

Será dos Ornatos Violeta que a maioria das pessoas se lembrará quando recordar a última noite desta edição de Paredes de Coura. Mas outro momento, também nacional, se destacou: a consagração dos Dead Combo.

Tó Trips e Pedro Gonçalves trouxeram Alexandre Frazão, baterista com “pedigree” jazz, para dar um nervo rock à sua música vadia. Peixe, dos Ornatos, deu uma perninha em dois temas.

Eléctrica cadente

(maravilha de

suspense

eléctrico) forneceu um final sublime, depois de

Lisboa Mulata

ter convidado África a juntar-se a Carlos Paredes, Ennio Morricone e Marc Ribot na festa universal dos Dead Combo.

No lote nacional, os Capitão Fausto mostraram ter um número já apreciável de adeptos da sua pop, que consegue ser radiofónica e progressiva ao mesmo tempo. Soaram frescos, tudo o que não foram os Ladrões do Tempo, onde militam Zé Pedro (Xutos & Pontapés) e os dois Dead Combo. O rock que fazem não tem uma única ideia nova.

Deslocados no cartaz de sexta-feira, os The Go! Team conseguiram, ainda assim, fazer a festa. Parecem um grupo de geeks que têm ali, naquela banda, naquelas canções, a sua vingança das tropelias cometidas pelos miúdos mais encorpados. A vingança serve-se com canções que, nos melhores momentos, imaginam um mundo em que os Sonic Youth fazem theme songs para super-heróis.