O Dia Drummond comemorou-se em Lisboa

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Imagens da gravação do filme Consideração do poema, Caetano Veloso Divulgação/ Instituto Moreira Salles

"Oh! sejamos pornográficos/(docemente pornográficos)./Por que seremos mais castos/que o nosso avô português?// Oh! sejamos navegantes,/bandeirantes e guerreiros/sejamos tudo que quiserem,/sobretudo pornográficos.//A tarde pode ser triste/e as mulheres podem doer/como dói um soco no olho/(pornográficos, pornográficos).//" Laerte com a sua maneira de dizer "pornográficos, pornográficos" põe o público a rir e ainda mais riem quando ele termina dizendo "gozado". É como se do outro lado da câmara, Laerte estive a antecipar o que se iria passar em Lisboa quando os portugueses o estivessem a ouvir declamar Drummond ao final da tarde.

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"Oh! sejamos pornográficos/(docemente pornográficos)./Por que seremos mais castos/que o nosso avô português?// Oh! sejamos navegantes,/bandeirantes e guerreiros/sejamos tudo que quiserem,/sobretudo pornográficos.//A tarde pode ser triste/e as mulheres podem doer/como dói um soco no olho/(pornográficos, pornográficos).//" Laerte com a sua maneira de dizer "pornográficos, pornográficos" põe o público a rir e ainda mais riem quando ele termina dizendo "gozado". É como se do outro lado da câmara, Laerte estive a antecipar o que se iria passar em Lisboa quando os portugueses o estivessem a ouvir declamar Drummond ao final da tarde.

Sala a abarrotar para comemorar o Dia D, o dia Drummond, em Lisboa. A ideia partiu do Brasil, do Instituto Moreira Salles (IMS), que tem o acervo pessoal do poeta brasileiro Carlos Drummond de Andrade (1902-1987): e se tal como acontece na Irlanda, com o Bloomsday dedicado a James Joyce houvesse um dia Drummond, o dia D, a ser comemorado em todo o mundo? Assim nasceu o dia D, comemorado pela primeira vez, hoje, 31 de Outubro, dia de nascimento do poeta.

Numa parceria com o IMS foi projectado, hoje na Casa Fernando Pessoa, o filme “Consideração do poema”, produzido pelo IMS para o evento. Um trabalho belíssimo com actores, poetas, actrizes, académicos, cantores, compositores, escritores, enfim grandes nomes da cultura brasileira como Chico Buarque, Caetano Veloso, Milton Hatoum, Fernanda Torres, Mariana de Moraes, Adriana Calcanhotto, Cacá Diegues, Antonio Cícero, Paulo Henriques Brito e Marília Pêra a lerem poemas e a falarem sobre a importância desses poemas na sua vida.

O filme surpreende não só pela forma maravilhosa como todos declamam os poemas curtos de Drummond mas também pelos comentários.

Para o poeta e académico Antonio Cícero, Drummond "conseguiu fazer uma coisa genial porque não tem uma palavra sobrando." Antes de declamar, Caetano Veloso é captado a treinar.

Fala de "Elegia 1938", um "poema extraordinariamente bem escrito" onde se vê a densidade da escrita de Drummond e que depois do 11 de Setembro passou a fazer ainda mais sentido para o compositor. Cacá Diegues lê "Também já fui brasileiro". Chico Buarque, "Inocentes do Leblon". O escritor Milton Hatoum confessa que não consegue passar dois dias sem ler Drummond.

O artista plástico e escritor Nuno Ramos admira a capacidade de "Elegia", o poema que lê "não falar de nada" e por isso o considera um dos "poemas mais livres da língua portuguesa".

O filme que foi projectado em Lisboa está disponível no site http://www.diadrummond.com.br.

Neste evento, antes da projecção do filme, a escritora e jornalista Leonor Xavier que entrevistou o poeta brasileiro, em 1984, para o "Diário de Notícias" quando vivia no Rio de Janeiro, contou a sua experiência e recordou o "mito". Drummond disse-lhe nessa entrevista, "a poesia realmente é de todos", e foi isso que se viu hoje na Casa Fernando Pessoa.

No final do evento, os actores Ângela Pinto e Jorge Sequerra fizeram uma leitura encenada dos poemas longos de Drummond (“A Mesa”, “A Máquina do Mundo”, “Caso do Vestido”, “Noite na repartição”, “O marginal Colorindo Gato” e “Nosso Tempo”) e a sala foi-se esvaziando.