CP muda sede de Lisboa para nova cidade ferroviária na Amadora

Instalações na Calçada do Duque já não servem e podem ser um bom encaixe financeiro se forem vendidas

A CP quer concentrar na Amadora, no espaço da antiga fábrica da Bombardier, todos os seus serviços não operacionais, construindo ali a sua sede para cerca de mil trabalhadores. O objectivo é rentabilizar um espaço de 60 mil metros quadrados que, há quatro anos, a empresa de manutenção de equipamento ferroviário da própria CP, a EMEF, comprou por 6,05 milhões de euros.

Neste momento, a antiga unidade industrial que já foi da Sorefame, da ABB, da AdTranz e da Bombardier, alberga a sede da EMEF, o seu centro de inovação e tecnologia ferroviária e a Fergráfica, uma empresa do grupo.

O Metro tem ali tem um enorme buraco, onde constrói a futura estação da Reboleira. E é precisamente a boa acessibilidade do local (com metro e estação de caminho-de-ferro à porta e auto-estradas próximas) que constitui um dos atractivos para esta localização da CP, cujos responsáveis estão convencidos que Lisboa terá naquela zona uma nova centralidade.

Por outro lado, a sede da CP, na Calçada do Duque (por cima da estação do Rossio), já não possui as funcionalidades exigidas a uma empresa moderna. Parte do terreno está ocupado com instalações pré-fabricadas, mas o edifício histórico, apesar de antigo, está bem conservado e possui uma das vistas mais magníficas sobre Lisboa. Mesmo a calhar, dizem alguns estrangeiros ligados ao sector, para ali se fazer um hotel de charme ou um condomínio fechado.

Na administração da empresa pública não se fala em concreto de um projecto, mas de uma ideia que está a amadurecer e que resulta da constatação de que a EMEF tem espaço a mais na Amadora. A compra do terreno nunca foi uma aspiração da CP ou da EMEF (até porque esta última está sobredimensionada e possui instalações espalhadas em todo o país), mas resultou de uma decisão da anterior secretária de Estado dos Transportes, Ana Paula Vitorino, que ali queria instalar uma fábrica de vagões para dar continuidade à produção industrial ferroviária herdada da Sorefame.

Afinal a dita fábrica, a existir, será no Entroncamento, e a EMEF e a Fergráfica juntas não rentabilizam o terreno. Daí a ideia de a empresa-mãe se juntar às suas afiliadas.

A transportadora pública ocupa também um edifício na Avenida da República, ao lado da estação de Entrecampos com dez andares e três pisos subterrâneos. Do ponto de vista financeiro, o negócio seria frutuoso para a CP, pois a alienação da sua sede, em plena Baixa lisboeta, pagaria um novo edifício mais moderno e funcional na Amadora. Numa visita ao local - que parece um enorme estaleiro - constata-se que os carris incrustados no betão ainda existem, mas já ali não passam carruagens nem vagões. O complexo industrial foi retalhado e há obras por todo o lado.

Há, contudo, quem defenda o legado histórico do imóvel da Calçada do Duque que remonta às origens do caminho-de-ferro em Portugal, ao qual a CP deveria permanecer fiel. Uma opinião oposta aos que entendem que este projecto representa uma oportunidade para uma mudança da cultura empresarial da transportadora pública.

Para a futura "cidade ferroviária" a empresa espera ainda transferir cerca de 150 funcionários que estão em Campolide num edifício da Refer, estando a CP obrigada a pagar renda. E prevê-se ainda que a Fernave, uma empresa de formação do sector, se mude da Rua Castilho também para Amadora.

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