Torne-se perito

Há mil e uma formas de avaliar como se vive numa cidade

Todos se preocupam com a qualidade de vida.

Mas os rankingsque quantificam o bem-estar dos cidadãos em Portugal não coincidem nos resultados

Pergunte a dez pessoas o que é viver bem, e as respostas serão tão variadas quanto a cabeça de cada um. Pode não haver consenso, mas não haverá autarca que negligencie o tema da qualidade de vida.

Que o digam os líderes dos municípios que ficaram bem colocados num rankingdivulgado em Julho passado pelo Observatório para o Desenvolvimento Económico e Social, da Universidade da Beira Interior. Com base em dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), o observatório criou um índice que sintetiza o desenvolvimento e o bem-estar de cada um dos 278 municípios de Portugal continental.

"Os que ficam bem classificados convidam-nos para apresentar os resultados", afirma o investigador José Pires Manso, responsável pelo observatório e co-autor do estudo. Alguns municípios até publicitaram, em cartazes de rua, a sua boa posição.

No outro extremo, porém, houve reacções opostas. Inconformado com o seu 261.º lugar, o município de São Pedro do Sul apresentou uma providência cautelar para impedir a divulgação do estudo por todo e qualquer meio, julgando-o sem validade científica. Até agora, não teve sucesso.

Falar da qualidade de vida é fácil, mas avaliá-la de forma cabal é praticamente impossível. Uma mesma cidade pode estar bem num índice, mas ficar pior noutro. É o caso de Viseu, a melhor capital de distrito do país, segundo um trabalho de 2007 da revista Deco-Proteste. No estudo da Universidade da Beira Interior, porém, Viseu ficou em 68.ª posição. "Até os mesmos autores, com as mesmas variáveis, podem chegar a conclusões diferentes", afirma José Manso.

Em Portugal, há várias experiências, todas diferentes. O estudo da Universidade da Beira Interior utiliza dados objectivos, do INE. Mas deixa de fora aspectos valorizados em outros índices, como a mobilidade, que não constam dos anuários estatísticos. Se fossem incluídos, Lisboa - bem classificada - seria muito mais penalizada.

O melhor para viver

O estudo da Deco partiu de inquéritos feitos no final de 2006, classificando as cidades conforme o que pensam os seus habitantes. Com isso, a capital do país foi relegada ao penúltimo lugar no ranking.

Já o Instituto de Tecnologia Comportamental (Intec) combinou ambos, dados objectivos e inquéritos. Este ano, o segundo em que o seu índice M2V é divulgado, Angra do Heroísmo, nos Açores, emergiu como o "melhor município para viver".

Ao contrário de outros índices, o M2V avalia cidades que querem ser avaliadas. No total, foram 20 este ano. E o facto de aceitarem submeter-se ao índice é um sintoma de que a qualidade de vida importa aos autarcas e de que, naqueles casos, há alguma confiança nos resultados. "São uma boa amostra do que há de melhor", diz Miguel Pereira Lopes, presidente do Intec. José Manso, da Universidade da Beira Interior, afirma que vários autarcas mostram-se interessados em saber como podem melhorar a sua posição no ranking. No Porto, a própria câmara lançou o seu sistema de monitorização da qualidade de vida. Dois relatórios (2003 e 2004) estão disponíveis no siteda autarquia.

Muitos exemplos (ver textos nestas páginas) mostram que as câmaras procuram soluções diferentes para tornar a vida dos seus cidadãos mais aprazível. Corredores verdes, infraestruturas para bicicletas, oferta cultural, medidas de segurança, há de tudo. Santarém e Torres Novas estão até a prescindir de parte das taxas de urbanização se os promotores imobiliários aderirem a um sistema de certificação de sustentabilidade - o LiderA - do Instituto Superior Técnico. Entre vários critérios a cumprir, alguns têm a ver directamente com aspectos que as pessoas normalmente valorizam quando pensam em qualidade de vida, como a facilidade de acesso a transportes públicos.

Nas palavras de Miguel Lopes, do Intec, a qualidade de vida é genericamente entendida pelos cidadãos como "a possibilidade de se ter o estilo de vida ideal". É um mundo vasto para qualquer autarca.

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