Risco de colapso obriga ao encerramento da Estufa Fria pelo menos por nove meses
Estrutura metálica da cobertura atingiu níveis de degradação perigosos, dizem especialistas.
A sua substituição irá custar mais de um milhão de euros, e não haverá concurso público
a A Estufa Fria vai estar fechada pelo menos nove meses, devido ao risco de colapso da sua estrutura metálica de cobertura. O espaço verde foi mandado encerrar pela Câmara Municipal de Lisboa no passado dia 29, depois de uma vistoria da empresa do reputado especialista em estruturas João Appleton. O relatório dos engenheiros que visitaram o local diz que, na parte da estufa fria do recinto - onde existe ainda uma estufa quente e outra doce, com plantas tropicais e equatoriais -, a degradação da estrutura que abriga as espécies vegetais ao longo de 8100 metros quadrados atingiu níveis perigosos. Há colunas e capitéis corroídos e vigas curvadas de forma pouco recomendável. Toda a estrutura vai ter de ser substituída, com o máximo de cuidado possível para não danificar as plantas. A situação da estufa doce, que tem uma área de 3000m2, é semelhante, embora menos grave: em alguns locais, poderá ser possível o reaproveitamento parcial da estrutura. Só a estufa quente é recuperável, apesar de também ali terem sido encontradas algumas anomalias.
A empreitada e o respectivo projecto, que poderão custar mais de um milhão de euros, não serão alvo de concurso público. A Câmara de Lisboa vai socorrer-se da disposição legal que permite a adjudicação directa em casos de emergência. O director municipal do Ambiente Urbano, Ângelo Mesquita, explica que a singularidade e a delicadeza da obra também aconselham este tipo de procedimento: ao contrário da maioria das empreitadas, em que o preço e o prazo são habitualmente os principais factores de ponderação na adjudicação, aqui o que conta é, acima de tudo, o currículo da empresa que fará a proeza de substituir a estrutura antiga por uma nova.
Ponto turístico"Temos de garantir o mínimo de risco para os elementos vegetais, embora alguns exemplares de maiores dimensões possam vir a sofrer danos", diz o mesmo responsável. Os prejuízos para o turismo da cidade também justificam a pressa, refere. Mas o anúncio afixado à porta da Estufa Fria não dá qualquer pista sobre o que se está a passar: apenas diz que o local se encontra encerrado "por motivos técnicos", não estando prevista qualquer "data para a sua reabertura".
Ângelo Mesquita diz que já informou quer os guias turísticos quer a Associação de Turismo de Lisboa de que não vale a pena rumarem a esta parte do Parque Eduardo VII.
O director municipal do Ambiente Urbano vai agora contactar três empresas que considera capazes de levar a empreitada por diante para saber se alguma delas está em condições de fazer o trabalho e tem disponibilidade para tal. "O ajuste directo será depois auditado pelo Tribunal de Contas", frisa. O projecto será feito pela empresa de João Appleton, a A2P. A obra deverá começar daqui a três meses.
"A estrutura encontra-se em risco de colapso há cerca de dez anos", conta o vereador dos Espaços Verdes, José Sá Fernandes. "Felizmente, não aconteceu nada até agora." O autarca já tinha planos para reabilitar o recinto. Mas a intervenção prevista era de menor monta e só deveria ocorrer em 2010. Dela faz parte a abertura de um centro de interpretação e de uma cafetaria entre a estufa e o jardim infantil do Parque Eduardo VII, ali ao lado, bem como a abertura de um ponto de venda de publicações e eventualmente de sementes à entrada do recinto. Sá Fernandes quer que a nova estrutura da estufa tenha acoplados painéis solares que forneçam energia eléctrica a todo o Parque Eduardo VII.
Serão as verbas do jogo do Casino de Lisboa a que o município tem direito por lei a pagar esta intervenção, bem como várias outras previstas pela cidade fora. "Como nunca sofreu obras, a Estufa Fria encontra-se num estado lastimoso", lamenta José Sá Fernandes.
Segundo informações prestadas pela câmara, a Estufa Fria recebe uma média anual de 60 mil visitantes. Uma das suas espécies mais curiosas é um cacto que só dá flor uma vez por século - e que já floriu no ano passado, conta Sá Fernandes.