Sobrinhos de Fernando Pessoa enviam carta a amigos a esclarecer "calúnias"

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Espólio de Fernando Pessoa continua a ser motivo de polémica Ñuno Ferreira Santos (arquivo)

“Em finais de 1988 a CML comprou à família dois lotes de livros que o poeta deixara em duas estantes. No contrato que a família conserva diz: ‘uma estante com livros encadernados (327) e outra com 777 livros’”, escrevem. Acrescentam ainda que a família “vendeu o que foi objecto de um contrato e não tudo que, na altura, a irmã do poeta pudesse possuir relativo ao irmão”.

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“Em finais de 1988 a CML comprou à família dois lotes de livros que o poeta deixara em duas estantes. No contrato que a família conserva diz: ‘uma estante com livros encadernados (327) e outra com 777 livros’”, escrevem. Acrescentam ainda que a família “vendeu o que foi objecto de um contrato e não tudo que, na altura, a irmã do poeta pudesse possuir relativo ao irmão”.

Excertos desta carta foram ontem divulgados pela agência Lusa e o blogue anónimo (http://umfernandopessoa. blogspot.com/), que teve acesso a ela, colocou-a on-line. O PÚBLICO contactou Manuela Nogueira, que assegurou que a carta é verdadeira.

Na mesma carta, referem-se ao leilão do espólio de Pessoa (13 de Novembro) e que a CML tentou inviabilizar com uma providência cautelar por causa da ida a leilão da capa de As Doutrinas Anarquistas, livro que tinha sido vendido à Casa Fernando Pessoa. Escrevem que “teria bastado um contacto telefónico feito pela câmara ou directora da Casa Fernando Pessoa, que estava bem informada do assunto, para que a dita capa fosse imediatamente retirada e não entrasse no leilão. O caso seria logo aclarado. Quiseram fazer chicana, sabotar o leilão e colocar mal a família. Infelizmente, com a ajuda dos media mal informados, conseguiram.”

O presidente da CML, António Costa, enviou mais tarde uma carta à família a solicitar a dita capa, Manuela Nogueira já lhe respondeu e afirma que “o presidente sabe tudo, está tudo explicado”, mas não diz o que ficou acordado entre ambos. Quanto à capa, diz que não a tem e que ainda estará em posse do leiloeiro. Na carta a circular na Internet explicam: provavelmente na altura da embalagem dos livros em casa da irmã do poeta “por negligência ou ignorância” os embaladores deixaram para trás a capa rasgada.

Esta carta refere-se ainda aos investigadores pessoanos que estiveram a digitalizar o espólio que ainda se encontrava na família – Jerónimo Pizarro, Patrício Ferrari e Stephen Dix – como “arrivistas” e “abusadores da confiança da família” que “sem conhecimento dos dois contratos firmados entre a família, o Estado e a CML, propalaram, com má fé, uma história difamatória”. Pizarro, contactado pelo PÚBLICO, remeteu-nos para a resposta que os investigadores enviaram para o blogue acima referido aquando de uma anterior entrevista da sobrinha ao DN. Aí dizem-se gratos pela amabilidade com que os herdeiros os acolheram, permitindo que os documentos fossem digitalizados, mas revelam ter ficado incomodados quando viram no catálogo do leilão revistas e livros que não lhes tinham sido facultados.