Jean Michel Jarre toca Oxygène com instrumentos da época

Músico estreia-se cá com a reencenação do disco que o revelou

a É um regresso às origens e, ao mesmo tempo, a concretização do desejo acalentado desde há muitos anos de tocar em Portugal. Quem o diz é o músico e compositor francês Jean Michel Jarre (Lyon, 1948), que finalmente se estreia ao vivo entre nós, com dois concertos, hoje no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, e domingo no Coliseu do Porto.Jarre, visto como um pioneiro da música electrónica, traz consigo "um espectáculo total" com o qual revisita e re-encena Oxygène (1976), um dos seus primeiros trabalhos discográficos e, sem dúvida, aquele que logo lhe rendeu o reconhecimento à escala mundial.
"Portugal é um país de que gosto muito. Foi, aliás, um dos que melhor respondeu, com cartas, críticas e outras reacções de grande gentileza, aos meus primeiros discos", recorda o músico, numa conversa telefónica com o P2.
O espectáculo que está a apresentar na sua actual digressão foi pensado para o 30º aniversário de Oxygène. E ele traz uma novidade de relevo relativamente à carreira de um músico que, nos últimos anos, se fez notar pela realização de grandes espectáculos audiovisuais, em espaços amplos ao ar livre.
Como os Stradivarius
Desta vez, Jean Michel Jarre está de regresso ao intimismo dos teatros e das salas de concertos convencionais, com a particularidade de utilizar para o seu novo espectáculo os mesmo (já velhos) instrumentos da gravação de Oxygène. "Serão 60 instrumentos e quatro músicos em palco. O disco foi originalmente gravado num magnetofone de oito pistas analógicas; por isso, eram precisas oito mãos para o tocar." O compositor faz mesmo uma analogia com a música clássica e com os Stradivarius. "Os instrumentos que vamos tocar, absolutamente ao vivo e em directo, são extraordinários. Eles fazem parte das origens da música electrónica e são, por isso, comparáveis aos Stradivarius do século XVII; têm também uma qualidade extraordinária."
Jarre vai mesmo mais longe, dizendo que os avanços na electrónica nos últimos anos não trouxeram nenhum acrescento relevante à qualidade musical dos velhos sintetizadores que ele agora foi buscar ao seu estúdio. "São instrumentos que desapareceram de cena no início dos anos 80, e que, finalmente, não chegaram a ter a sua vida própria. Mas hoje apercebemo-nos de que os novos computador imitam esses velhos instrumentos, até no seu look, mas não conseguem reproduzir verdadeiramente a qualidade do seu som."
As vantagens trazidas pelas novas tecnologias existem sobretudo nas condições e na fidelidade da gravação, e é isso que Jarre explora no seu novo espectáculo, onde quer "partilhar a emoção de tocar nestes instrumentos extraordinários numa situação de grande proximidade" com os espectadores. Daí o regresso às salas fechadas, como os coliseus, mas também como o Royal Albert Hall de Londres, o Cirque Royal de Bruxelas ou o Teatro Liceo de Barcelona, onde já actuou, "sempre com uma reacção extraordinária do público", diz.
A capa original de Oxygène mostra um crânio inscrito no planeta Terra. Jarre reivindica o pioneirismo nas preocupações ambientais. "Desde o título ao visual, o meu disco alertava já para a necessidade de defesa do meio ambiente. Nesses anos, não éramos muitos a pensar a vida do nosso planeta nesses termos", diz. A sua militância ecologista prolongou-se com a participação nos esforços da ONU e da UNESCO. E Jarre diz-se "cada vez mais comprometido com essa causa", nomeadamente com o programa ecológico Water for Fife, que recentemente o levou a fazer um concerto no Sara, a chamar a atenção para o problema da água potável.
"É verdade que, à época de Oxygène, a nossa visão era muito mais inocente, naïve mesmo. Era o tempo em que o 2001 de que falava o Kubrick estava à porta. Hoje, que o ano 2001 já ficou para trás, temos uma visão mais política do futuro. E ele aparece-nos mais sombrio."
É também essa "mensagem" que o músico quer fazer passar com esta reencenação de Oxygène, com a sua música que diz estar ligada à biosfera e "à ideia de pureza" que se deve associar ao ambiente.

Jean Michel Jarre

OxygèneLISBOA Coliseu dos Recreios, hoje,
às 21h30. Bilhetes de 25 a 100 euros
PORTO Coliseu, dia 27, às 21h30. Bilhetes de 25 a 55 euros

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