Estados Unidos criam novo comando militar específico para o continente africano

Africom serve estratégia
de segurança a longo prazo, mas está a ser recebido
com reservas em África

Ryan Henry afirma que este comando não significa a militarização das relações entre os Estados Unidos e África
a A base norte-americana de Kelley em Estugarda, na Alemanha, é o quartel-general onde começou a funcionar, ontem, o Africom, o comando militar americano para África, liderado pelo general William Ward e por uma diplomata, Mary Yates.
Um dos responsáveis pela criação desta estrutura, o subsecretário para questões políticas do Departamento de Defesa, Ryan Henry, disse aos jornalistas portugueses, em Setembro, que o Africom "não estará focado em operações de combate mas no apoio às nações africanas para gerirem a sua própria segurança, nomeadamente através do treino de forças militares".
Henry falava em Lisboa após um encontro com responsáveis portugueses, na sequência de uma ronda de consultas por vários países europeus, nomeadamente a Bélgica, a França e o Reino Unido.
O responsável do Pentágono justificou a criação deste comando, cujo arranque foi anunciado em Fevereiro por George W. Bush, explicando que "até aqui as operações em África estavam dependentes de três comandos militares, o Central, o Europeu e o do Pacífico".
A nova estrutura, por enquanto a funcionar apenas com 120 pessoas, só estará plenamente operacional no Outono de 2008, disse Henry. A sede provisória fica na Europa e existirão vários países africanos candidatos a receber o quartel-general do comando, mas o subsecretário não especificou quais. A Libéria mostrou-se publicamente interessada, mas países como a Nigéria rejeitaram acolher o comando, refere a Reuters. Segundo a BBC e a Reuters, encontrar uma sede em África pode ser um problema diplomático complicado.
"Será uma rede com vários nós", sublinhou Henry, sublinhando que a segunda figura do Africom é civil e que este é um comando centrado nas questões da cooperação e da segurança. "Não pretendemos militarizar a nossa relação política com o continente africano nem haverá novas forças operacionais ou bases", garantiu.
No entanto, o receio dessa militarização existe em África, segundo analistas ouvidos pela Reuters. "A iniciativa norte-americana tem o objectivo de enfraquecer a presença crescente de outras potências como a China", disse o cientista político argelino Ismail Ghalia. "Há dois itens essenciais na agenda: garantir o fluxo dos recursos naturais, nomeadamente o petróleo e o combate ao terrorismo", afirmou Peter Takirambudde, director da Human Rights Watch para África.
Recursos naturais
Questionado sobre a importância cada vez maior para os EUA dos recursos naturais africanos, em particular o petróleo de Angola e da Nigéria, o subsecretário do Departamento de Defesa replicou que a preocupação dos EUA é garantir "que os produtos africanos tenham acesso ao mercado global, o que implica ultrapassar a instabilidade em várias regiões."
Henry sublinhou que o objectivo do comando é treinar forças africanas para responder a problemas como o terrorismo ou os conflitos regionais. "A segurança em África deve ser liderada pelos africanos. Teremos um papel de apoio e não de liderança", afirmou, acrescentando que um comando como este poderá antecipar crises antes de estas se desenvolverem. Do ponto de vista político, Henry entende que a União Africana deve ser o principal interlocutor do Africom.

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