Jorge Sampaio pede contributo da sociedade civil para fortalecer Aliança das Civilizações

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Sampaio pediu também a cooperação dos líderes religiosos e do sector privado Bruno Rascão/PÚBLICO (Arquivo)

O alto representante das Nações Unidas para a Aliança das Civilizações, Jorge Sampaio, exortou ontem à noite, em Nova Iorque, à colaboração da sociedade civil, dos líderes religiosos e do sector privado na promoção do entendimento e na cooperação.

O ex-presidente português — que se dirigiu pela primeira vez aos países da ONU desde que assumiu o cargo no debate temático informal convocado pela presidente da Assembleia-Geral, Sheika Haya Rashed Al Khalifa, intitulado "Civilizações e os Desafios para a Paz e a Segurança Mundiais" — reconheceu que se vive hoje num mundo "polarizado", mas rejeitou "o fatalismo" da expressão "choque de civilizações".

Como enviado especial, Jorge Sampaio assinalou que fará tudo o que estiver ao seu alcance para melhorar as relações interculturais, negando-se a aceitar a premissa da confrontação de civilizações, por considerar que isso equivale a uma rendição e a afirmar que os problemas não se podem resolver.

Sampaio reconheceu que a identidade cultural e as crenças são exploradas com motivações políticas, defendendo, por isso, que é necessário implementar iniciativas que permitam estabelecer pontes para o diálogo.

"A tendência emergente ao extremismo não é problema de sociedades ocidentais e muçulmanas, também afecta outras comunidades", salientou.

O responsável disse que tentará impulsionar iniciativas com os governos destinadas a reforçar a democratização, o respeito pela lei e os direitos humanos.

"Devemos trabalhar juntos para que os compromissos adquiridos na Aliança das Civilizações se convertam em resultados", afirmou.

Espanha vai acolher I Fórum Mundial para a Aliança das Civilizações

Na ocasião, o embaixador espanhol, Juan Antonio Yañéz-Barnuevo, anunciou que o seu país acolherá o I Fórum Mundial para a Aliança das Civilizações, ainda antes do fim do ano, centrado no tema da juventude.

O diplomata espanhol assinalou que a globalização pode ter "efeitos perversos" e que as culturas e civilizações em lugar de competir deveriam complementar-se.

"A Aliança das Civilizações deve promover actuações conjuntas para conseguir um melhor entendimento entre os povos e as culturas", defendeu.

Exortou à implementação das recomendações do painel de alto nível da aliança em matéria de juventude, educação e meios de comunicação.

Yanez-Barnuevo lembrou que trabalhará em "estreita colaboração" com Jorge Sampaio e com o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.

Liga Árabe quer discutir Aliança das Civilizações no Conselho de Segurança

No debate participou também o secretário-geral da Liga Árabe, Amr Musa, que fez um apelo para que este tema da Aliança das Civilizações seja tratado no Conselho de Segurança, por se tratar de uma questão política.

Defendeu que a instabilidade existente no mundo é consequência da deterioração da democracia e dos direitos humanos e do incumprimento do direito internacional.

"Não é um choque de civilizações mas sim um conflito político, um conflito de interesses e de aspirações hegemónicas", afirmou.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, anunciou no final de Abril a nomeação do antigo Presidente da República Jorge Sampaio como primeiro alto representante para a Aliança das Civilizações, uma iniciativa sob os auspícios das Nações Unidas.

O anúncio foi feito pela porta-voz oficial da ONU, Michelle Montas, que adiantou, em conferência de imprensa, que a nomeação fora concretizada após consultas a Espanha e à Turquia, os dois promotores da iniciativa.

A iniciativa Aliança das Civilizações foi apresentada inicialmente pelo chefe do governo espanhol, José Luís Rodriguez Zapatero, em 21 de Setembro de 2004, durante a 59ª Assembleia-Geral da ONU, em Nova Iorque.

A iniciativa, que tem o objectivo de propiciar o entendimento entre diferentes culturas e religiões, e a que depois se juntou a Turquia como co-patrocinador, contou com os auspícios da ONU e mais de 40 países e organizações manifestaram o seu apoio.

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