UMA HISTÓRIA DE TRAGÉDIA

O IP3 registou entre 1999 e 2001 o maior
número de vítimas mortais entre todos os itinerários principais do país

Inaugurado em 1991 pelo então primeiro-ministro Cavaco Silva, o Itinerário Principal n.º 3 (IP3) almejava ligar a Figueira da Foz a Chaves, mas as vicissitudes da história fizeram-no circunscrever-se à ligação entre Coimbra e Viseu. Foi, desde sempre, uma via conotada com acidentes, muitos deles, demasiados, fatais. Chegou mesmo a ser conhecida como "estrada da morte" e, entre 1999 e 2001, registou o triste recorde do maior número de vítimas mortais entre todos os itinerários principais do país.A constante perda de vidas fez com que a 3 de Março de 2001 fosse criada a Associação de Sobreviventes do IP3 (ASIP3), que marcou para o fim desse mês uma marcha lenta de protesto. A ASIP3 fez também circular um abaixo-assinado para exigir a adopção de medidas tendentes a aumentar a segurança nesta via. Entre elas, a tantas vezes falada criação de duas vias em cada sentido da faixa de rodagem, com um separador central em toda a sua extensão, à semelhança do que foi recentemente feito no anterior IP5, hoje A25.
O documento exigia ainda o reforço da sinalização vertical e no pavimento, que deveria ser bem visível de dia e de noite, mesmo em situações de muito nevoeiro, como é frequente suceder na zona da Aguieira, e a prevenção da queda de pedregulhos e lençóis de água. Eduardo Ferreira, um dos fundadores do ASIP3, afirmou então que "o IP3 mata mais do que a guerra colonial".
Porém, Março de 2001 viria a ficar marcado por uma das maiores tragédias ocorridas no IP3. Aconteceu cerca das 20h15 do dia 22, quando um autocarro da Câmara Municipal de Viseu se despistou no nó do Vimieiro, matando 14 pessoas e ferindo 24, oito das quais em estado grave. O funeral das vítimas levou mesmo a que o então bispo de Viseu, D. António Monteiro, lançasse um apelo sentido ao Governo de António Guterres. "Defendam o vosso povo, corrijam as vias de trânsito que matam, vejam as pontes inseguras", proferiu, apelando a seguir, aos "responsáveis do país": "Tirai-nos o medo de sair à rua, de ir a Fátima ou de dar um passeio de fim-de-semana. Não gastem tempo com outros problemas sem interesse e preocupem-se com o povo."
Desde então têm sido introduzidas algumas alterações no IP3 - para além da quase sempre abundante presença de patrulhas da GNR - a mais importante das quais foi a introdução de separadores dos sentidos de trânsito nos locais mais negros do trajecto, o que tem contribuído para diminuir o número de mortes, mas nem por isso conseguiu baixar significativamente os níveis de sinistralidade, o que leva o OSEC a não ter dúvidas em afirmar que o IP3 continua a ser, hoje, um dos "pontos negros" das estradas portuguesas.
Já a velha reivindicação de dotar este itinerário de duas vias em cada sentido da faixa de rodagem é que continua a não passar disso mesmo. Aníbal Rodrigues

Sugerir correcção