Israel planeou guerra no Líbano antes do rapto dos seus soldados

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Telavive obteve apoio de Washington para uma ofensiva contra o Hezbollah que serviria de teste a um ataque ao Irão Wael Hamzeh/EPA (arquivo)

Citando várias fontes anónimas e analistas próximos do Governo norte-americano, Hersh avança que vários dirigentes israelitas viajaram até Washington para explicar o seu plano à Administração Bush e obter o seu apoio ao avanço da ofensiva militar.

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Citando várias fontes anónimas e analistas próximos do Governo norte-americano, Hersh avança que vários dirigentes israelitas viajaram até Washington para explicar o seu plano à Administração Bush e obter o seu apoio ao avanço da ofensiva militar.

"Israel começou com o vice-presidente Dick Cheney. Eles queriam ter a certeza de que tinham o seu apoio, bem como do Conselho de Segurança Nacional", revelou uma fonte anónima da Administração. Garantido o apoio de Cheney, "persuadir o Presidente [Bush] nunca foi problema, e a secretária de Estado, Condoleezza Rice também embarcou", acrescenta o jornalista.

A Administração Bush, adianta Hersh, acreditaria que uma ofensiva israelita em território libanês controlado pelo Hezbollah permitiria resolver vários "problemas" políticos: o Departamento de Estado considerava que o frágil Governo de Fouad Siniora em Beirute seria legitimado com o enfraquecimento da milícia xiita do Partido de Deus; o Pentágono previa que a experiência no País do Cedro poderia servir como "teste" a um futuro ataque aéreo norte-americano às instalações nucleares iranianas, e a Casa Branca esperava que a destruição da capacidade militar do Hezbollah protegesse Israel de uma retaliação, no caso de os Estados Unidos bombardearem o Irão.

Segundo escreve Seymour Hersh, há algum tempo que o Governo israelita alimentava a ideia de neutralizar o Hezbollah. E depois do rapto dos dois soldados israelitas, a 12 de Julho, "a Administração Bush esteve intimamente envolvida no planeamento dos ataques retaliatórios de Israel", observa o jornalista. "Os israelitas disseram-nos que era uma guerra barata com muitos benefícios. Porquê opormo-nos? Seríamos capazes de bombardear mísseis, túneis e bunkers. Era uma demonstração para o Irão", comentou à New Yorker um consultor do Governo americano com fortes ligações a Israel.

Como nota Hersh, o que nenhum departamento previu foi que a ofensiva israelita pudesse contar com uma tão séria oposição por parte do Hezbollah, nem antecipou o choque das opiniões públicas e a oposição política mundial perante o número de vítimas civis e a devastação do Líbano.

Tanto o Departamento de Estado como o Pentágono, o Governo de Israel e a Casa Branca negaram categoricamente o artigo da New Yorker. "É uma peça abundante em ficção", comentou Tony Snow, o porta-voz da Administração americana. O porta-voz do MNE israelita, Mark Regev, desmentiu a ideia de uma "operação militar premeditada em coordenação com outros". A New Yorker manteve a história e manifestou a sua confiança no jornalista.

Bush, que regressou na segunda-feira de umas férias de dez dias, congratulou-se com as tréguas negociadas no Conselho de Segurança da ONU, apelando ao apoio da comunidade internacional ao Governo do Líbano. Alinhando pelo discurso oficial israelita, o Presidente dos EUA considerou o desfecho do conflito uma importante vitória para o Estado judaico e para os países do mundo que lutam pela democracia. "O Hezbollah atacou Israel. O Hezbollah iniciou a crise e o Hezbollah conheceu a derrota", sublinhou Bush, responsabilizando a guerrilha xiita pela morte de centenas de civis no Líbano e em Israel.