Caso Joana: mãe e tio condenados a 20 e 19 anos de prisão

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Os advogados dos acusados já anunciaram que vão apresentar recurso da decisão Luís Forra/Lusa

A mãe e o tio de Joana, que desapareceu em Setembro do ano passado, foram hoje condenados, respectivamente, a 20 anos e quatro meses e a 19 anos e dois meses de prisão.

Leonor e João Cipriano foram condenados pelos crimes de homicídio qualificado e ocultação de cadáver, embora o tribunal não tenha determinado a localização do corpo da criança.

No final de um julgamento que teve a participação de um tribunal de júri, composto por três juízes e quatro jurados, o colectivo considerou que ficou por provar que Leonor e João Cipriano tivessem intenção deliberada de profanar o cadáver da criança, pelo que absolveu ambos deste crime que constava da acusação.

Também não deu como provado que os dois irmãos tivessem a intenção de matar a menor quando começaram a agredi-la, embora tenham considerado que ambos estavam conscientes das consequências dos seus actos enquanto a espancavam.

Segundo o tribunal, quando a criança começou a sangrar, não houve qualquer gesto ou intenção por parte dos dois arguidos de interromper o espancamento.

Baseado nas provas periciais efectuadas pela Polícia Judiciária, o tribunal considerou também como provado que o corpo da menina foi esquartejado em três partes e que houve pelo menos uma tentativa de colocar uma dessas partes numa arca congeladora.

Já durante as alegações finais, os advogados de defesa pediram a absolvição dos arguidos, afirmando que não ficou provado o seu envolvimento na morte da criança.

Os advogados dos acusados já anunciaram que vão apresentar recurso da decisão divulgada esta tarde pelo colectivo de juízes do Tribunal de Portimão.

À saída do tribunal, o advogado de Leonor Cipriano, João Grade dos Santos, anunciou que vai apresentar recurso depois de analisado o acórdão hoje proferido. A defesa de João Cipriano, assegurada por Sara Rosado, já confirmou que irá também recorrer da sentença.

João Grade dos Santos afirmou ter ficado surpreendido com a sentença aplicada à mãe da criança desaparecida, admitindo, ironicamente, que "esperava uma condenação superior a 40 anos", por considerar que este foi um "julgamento diferente" dos casos semelhantes já julgados pela justiça portuguesa.

Defesa surpresa com condenação "sem provas"

As provas apresentadas em julgamento para sustentar as acusações estiveram envoltas em polémica, com a defesa dos dois irmãos a contestarem a apresentação de um vídeo com a reconstituição do caso elaborado pela Polícia Judiciária (PJ), através de declarações de João Cipriano, e de uma reconstituição fotográfica sobre o mesmo, bem como a ausência de provas físicas do envolvimento dos Cipriano na morte de Joana.

No vídeo apresentado em tribunal a pedido do Ministério Público, o tio da criança responde a questões dos agentes da Polícia Judiciária, na casa em que o crime terá sido cometido, na aldeia de Figueira, admitindo que agrediu a menor mas sem reconhecer ter sido responsável pelo homicídio.

Hoje, no final da leitura da sentença, a presidente do colectivo de juízes, Alda Casimiro, afirmou que o tribunal considerou que apesar do corpo da vítima não ter sido encontrado, esse facto não era relevante para o processo, uma vez que desde o início se considerou que a criança estava morta.

Quanto ao vídeo, fortemente contestado pela defesa dos arguidos, Alda Casimiro argumentou que este não foi utilizado para a decisão do tribunal, apesar de advogar que este foi realizado de forma legal e legítima. Para o colectivo de juízes, a reconstituição fotográfica foi suficiente para a elaboração da sentença. Dado que os dois arguidos se recusaram a prestar depoimento em tribunal, o colectivo explica que foi obrigado a decidir com o recurso às provas existentes.

Entre essas provas estão ainda relatórios periciais, cruzados com os testemunhos das pessoas mais próximas de Leonor e do irmão, apresentados pelo Ministério Público para reconstituir o crime.

Nesses relatórios foram indicadas as impressões palmares encontradas na parede da casa de Leonor, indicando a queda de uma criança, mas sem provar que pertencem a Joana, e relatados os resíduos de sangue encontrados numa arca congeladora mas contaminados com petróleo. Quanto a esta prova, o Ministério Público sustenta que o combustível foi utilizado para apagar vestígios, enquanto a defesa alega que serviu para controlar uma praga de carraças.

Conhecida a sentença, a defesa dos arguidos vai recorrer da decisão do tribunal, por considerarem que não foi produzida prova suficiente durante as audiências de julgamento.

"Naturalmente, faltei a algumas sessões e não me lembro de ter visto a produção de prova de alguns factos que foram dados como provados", ironizou o advogado João Grade. Também recorrendo à ironia, Sara Rosado disse "ter estado ausente, porque não se fez prova nenhuma para a condenação".

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