Miguel B. Araújo O académico

A primeira vez que esteve em Inglaterera foi com o programa Erasmus. Decorria o ano de 1994, Miguel B. Araújo tinha 24 anos. Foi "uma fase de euforia". "O ambiente de um estudante Erasmus é quase perfeito" - a ênfase recai sobre "a integração social, cultural e linguística". Terminou a licenciatura de Geografia iniciada na Universidade Nova de Lisboa em Aberdeen, na Escócia. Recebeu notícia de um mestrado no University College, em Londres, sem "programa análogo em Portugal". E esse mestrado abriu-lhe caminho para o doutoramento no Museu de História Natural de Londres. "O primeiro choque é o de culturas", referiu ao PÚBLICO, numa entrevista dada por e-mail. "Apesar das semelhanças pontuais que existem entre portugueses e britânicos, as diferenças tornam-se patentes logo no início da convivência". Depois, "acumulam-se outros choques", como a "gastronomia, o clima e o custo de vida". Uns desistem, Miguel não. Passou pela fase de isolamento, como acontece a tantos outros. E atingiu a fase seguinte, a que chama "relativismo". Agora, está em paz. Valoriza "o que o Reino Unido tem de bom: a Radio 4 da BBC, as livrarias, o dinamismo académico, a centralidade geográfica, o espírito de tolerância, a maturidade democrática". Talvez tenha ajudado o facto de não ter estado sempre no Reino Unido. Entre o doutoramento e a sua fase actual de investigador na Universidade de Oxford, esteve três anos a fazer um pós-doutoramento no Sul de França. "Os males da sociedade francesa ajudaram-me a encarar a britânica com mais complacência e admiração", explica. Mas como não consegue "viver muitos mais anos sob a permanente nuvem cinzenta que cobre os céus britânicos", já pensa no "próximo passo". Portugal não, talvez Espanha... Ainda assim, a imagem mais próxima do seu "conceito de paraíso" está em Portugal: "Um pequeno restaurante na praia do Meco, onde, entre boa música e brisas marítimas, se come o melhor peixe fresco e se bebem os melhores sumos de fruta".

Beatriz Batarda
A actriz

Não guarda uma memória de adaptação sofrida. "Quando se imigra para entrar numa escola de teatro", essa questão não se coloca, afirma Beatriz Batarda. O curso requer "muita entrega", fomenta "muito contacto físico e emocional". Os laços criam-se "muito rapidamente". Claro que singrar na sua área "não é fácil". Sem grande caracterização, poderia passar por nórdica. Mas "todos os papéis que consegui foram de estrangeira", sublinha. É neste tipo de evidência que "uma pessoa sente que está um bocadinho limitada". Ao mesmo tempo, porém, "para os ingleses, há uma coisa que joga a favor de uma actriz estrangeira: algum exotismo". Já viveu "em várias zonas da cidade - da zona um à seis", diz, numa alusão à rede de transportes públicos. Agora vive em Vitória, no centro de Londres, ou melhor, entre Londres e Lisboa. É a situação que mais convém à actriz de 31 anos. "Esta é uma profissão inconstante que requer que uma pessoa seja um bocadinho nómada". As audições e as representações comandam a rota. "Nos últimos dois anos, tenho trabalhado mais em Portugal - com saídas temporárias para Londres. Antes era o contrário", clarifica. Neste corre-corre actual, tanto pode ir "seis vezes no mesmo mês" à capital britânica como estar com uma peça em cena e ficar um ou dois meses sem pôr os pés em sua casa.

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