Ratzinger "é uma desgraça, mas visto com distância tem graça"

Mário Oliveira lança novo livro. O polémico padre aposta em "movimento insurreccional"

João Paulo II era "vaidoso e autoritário que se fartava". E o mundo que se acautele, porque Bento XVI irá pôr a sua inteligência "ao serviço do moralismo católico". A esperança do padre Mário Oliveira, conhecido por padre Mário da Lixa e por manter uma relação conflituosa com a hierarquia católica, é que "esta superortodoxia" venha a criar "um movimento insurreccional". Mário Oliveira lançou ontem mais um livro, no Porto. A obra, pensada em tempo recorde, resulta do diário aberto que mantém na Internet. Concentra as reflexões que produziu entre 2 e 15 de Abril sobre a agonia, a morte, o funeral e o túmulo de João Paulo II e a eleição de Bento XVI.
O livro E Se com o Papa Enterramos também a Igreja Católica Romana? (Arca de Letras, 35 páginas) pode ser encarado com maus olhos pela hierarquia católica, mas é um "grito de esperança", diz o autor, porque a "alegria" de Mário de Oliveira, "como cristão, é ver esta Igreja, que tem mais de romana do que de Jesus, desaparecer".
A Igreja Católica Romana "não anuncia a boa notícia, o Evangelho, mas um moralismo rasca, que nos infantiliza e nos oprime", continua. "A Igreja que temos é o carro-vassoura - o mundo avança e ela fica para trás."

"Um grande Inverno na Igreja"
Quando soube da nomeação do novo Papa, Mário Oliveira deu "uma gargalhada". D. José Policarpo, patriarca de Lisboa, "seria pior", porque "representaria o lobby da Opus Dei e de Fátima", refere. No imediato, Ratzinger "é uma desgraça", mas "visto com distância tem graça: inaugurou-se um grande Inverno na igreja, mas o Inverno prepara a Primavera".
O padre, actualmente sem paróquia atribuída e com mais de uma dezena de títulos publicados, acha que "era difícil ter um Papa todo para a frentex". Teria de enfrentar "a cúpula, enquanto não fosse assassinado". Depois, "viria um grande recuo".
Frente à "superortodoxia" de Bento XVI, Mário Oliveira espera ver surgir "um movimento insurreccional" capaz de refundar a Igreja.
Em seu entender, "a dissidência é que salva o mundo, não é o pensamento único - esse escraviza, faz infantes, miniaturas". E "se não precisarmos da Igreja, tanto melhor!"
Para já, lança um aviso: Bento XVI é "muito inteligente, superculto e, com tanta capacidade posta ao serviço do moralismo católico, isto não vai ser uma coisa de cacaracacá... Acautelem-se teólogos e teólogas da libertação!"
O autor também não poupa críticas ao anterior Papa. Na pequena obra, sustenta que João Paulo II era um "perseguidor" e que, no fim da vida, quis apregoar que "o sofrimento é o valor da salvação". Uma posição que rejeita, na crença de que, "na teologia de Jesus, o que tem valor é a luta contra o sofrimento humano".
João Paulo II "impôs este final mediatizado", por ser "vaidoso e autoritário", acusa. "Quando se fala em campa rasa, pensa-se na pobreza, na humildade, no anonimato, na erva a crescer; aquilo é um monumento de vaidade dentro da maior basílica para todos os séculos e séculos", interpreta. E contrapõe este cenário ao de Cristo. "Os relatos mais primitivos dizem que o túmulo estava vazio e mais nada. Não dava para fazer romagens - como ao Papa."

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