Rainha Isabel II não vai ao casamento de Carlos e Camilla

Ao não comparecer na conservatória do registo civil, a soberana está a tentar "proteger a monarquia"

A Rainha de Inglaterra, Isabel II, anunciou ontem que não vai assistir à cerimónia civil do casamento entre o seu filho, príncipe Carlos, e Camilla Parker-Bowles que se realiza no dia 8 de Abril. A soberana assistirá, no entanto, ao serviço religioso de bênção da união que decorrerá a seguir no Castelo de Windsor. O noivo já fez saber que não considera a ausência materna da cerimónia civil como um gesto de censura. Mas os analistas não têm dúvidas de que esta decisão da Rainha constitui uma "humilhação" para o príncipe.Oficialmente, "a Rainha não assistirá à cerimónia civil porque está consciente que o príncipe e a senhora Parker-Bowles querem que o acontecimento seja discreto", explicou um porta-voz do Palácio de Buckingham. A leitura dos especialistas em questões monárquicas citados pela AFP é a de que o gesto de Isabel II tem como objectivo primeiro "defender a monarquia". Para Dickie Arbiter, ex-porta-voz de Buckingham, é o carácter "plebeu" do casamento de Carlos e Camilla que impede a Rainha de assistir à cerimónia civil.
Inicialmente, a troca de assinaturas deveria realizar-se no interior do castelo real, mas impedimentos legais - a licença necessária não serve para um dia apenas, mas por três meses, o que implicava manter as portas abertas durante esse período a quaisquer cidadãos que ali quisessem casar-se - obrigaram Carlos a transferir o casamento para a câmara municipal da localidade de Winsdor.
"Enquanto Rainha e chefe da Igreja Anglicana, Isabel II estará presente na Capela de St. George (no Castelo de Windsor) onde o arcebispo de Cantuária vai dar a bênção à união", disse Arbiter. "A Rainha, que é uma pessoa muito religiosa, considera que a bênção é a parte importante deste casamento." Muito mais importante do que "cinco minutos numa conservatória do registo civil". A Casa Real também fez questão de noticiar que será Isabel II a pagar as despesas da recepção no seu castelo.
O príncipe Carlos, herdeiro directo do trono e futuro chefe da Igreja Anglicana, não poderia casar-se pela Igreja com uma mulher divorciada (Camilla separou-se de Andrew Parker-Bowles em 1995). E muitos "puristas" da monarquia britânica levantaram a questão de saber se mesmo a união civil entre o futuro rei (também ele divorciado, mas aos olhos da lei viúvo, após a morte de Diana) e uma mulher divorciada poderia ser validada. Ontem o Governo britânico voltou a garantir que este casamento "é legal".
Os mesmos defensores da monarquia consideram que o cenário que se está a desenhar - o herdeiro da coroa ser obrigado a casar-se numa registo civil sem a presença dos seus pais, numa cerimónia cuja legalidade foi fortemente contestada - "humilha e embaraça Carlos", nas palavras da escritora Judy Wade
"Isto é um desastre de relações públicas que se está tornar numa farsa. As cerimónias reais decorrem sempre com uma minúcia irrepreensível. Agora eles nem sequer estão a conseguir organizar como deve de ser um casamento na conservatória do registo civil", comentou Wade, autora de vários livros sobre a monarquia, citada pela Reuters.
Às portas do Palácio de Buckingham, o comerciante Lloyd Watson explicou à Reuters o que pensa de tudo isto: "A Rainha tem razão em não ir. Este casamento é uma vergonha e ela está a dizer a toda a gente o que pensa ao decidir não pôr lá os pés."

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