O escândalo de Abu Ghraib que não conhecemos

A revista "Time" chamou-lhe "o escândalo de Abu Ghraib que ainda não conhecemos". De acordo com as descobertas dos peritos legais M. Gregg Bloche e Jonathan Marks, publicadas no "New England Journal of Medicine", médicos militares ajudaram a infligir dor física e angústia a detidos na prisão dos arredores da capital iraquiana. Ao mesmo tempo, segundo este inquérito e testemunhos de médicos e outros militares que passaram por Abu Ghraib, "a escassez de cuidados médicos básicos era por vezes tão severa que criava outro tipo de tortura", revela a revista na sua última edição. Apesar de a prisão ter chegado a ter 7000 detidos, nenhum médico americano ali esteve em permanência durante grande parte de 2003. Um clínico refere que examinava 800 a 900 detidos por dia, à medida que estes chegavam à prisão. Ken Davis, polícia militar que serviu em Abu Ghraib no fim de 2003, contou à "Time" ter escoltado um detido que tinha o pé partido desde a véspera. "Tinha dores terríveis. Não havia nenhum médico nem nada que pudéssemos fazer", explica. "Quando alguém morria nós limitávamo-nos a retirar-lhe o tubo do peito e a inseri-lo noutro que estivesse vivo", diz Kelly Parrson, capitão da Guarda Nacional que esteve na prisão do fim de 2003 a 2004. Cateteres ou tubos de respiração eram frequentemente reutilizados; na ausência de camisas-de-forças eram usadas cordas, por vezes com a autorização de um médico, para controlar detidos perturbados. O escândalo dos abusos contra os presos levou o Exército a lançar reformas e os cuidados médicos aumentaram ao longo do ano passado. Actualmente, os americanos mantêm em Abu Ghraib cerca de três mil reclusos. S.L.

Sugerir correcção