Uma América de contradições

O cinema de Spike Lee abriu-se: já não é o "angry black man", mas, em "A Última Hora", um cineasta em que o ressentimento deu lugar ao apaziguamento.

Não é que a violência não esteja lá: veja-se o magnífico plano de Edward Norton ao espelho, insurgindo-se contra as diferentes etnias que compõem Nova Iorque, a ecoar De Niro em "Taxi Driver". No fim, haverá um "travelling" de redenção, em que as mesmas imagens - paquistaneses, chineses, negros, etc. - reaparecem. Qual é a imagem mais "verdadeira": a do espelho (raiva) ou a do "travelling" (apaziguamento) do carro que conduz Norton à prisão? É uma América de contradições que Lee filma, até pelo facto de escolher como modelo um anti-herói - um "dealer" condenado a sete anos de prisão que vive as suas últimas 24 horas em liberdade -, uma América que, apesar da violência, ainda está mal refeita do atentado de 11 de Setembro (referência recorrente, embora subtil) e tenta a reconciliação. Um dos maiores filmes do ano.

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