Troufa Real impedido de dar aulas em Arquitectura por dois anos

O conselho disciplinar do senado da Universidade Técnica de Lisboa (UTL) já se pronunciou sobre o processo disciplinar do professor catedrático da faculdade de Arquitectura Troufa Real: dois anos de inactividade por acumulação de funções na Universidade Moderna e má prestação enquanto presidente do departamento de urbanismo na Técnica. O catedrático contesta a decisão, conhecida anteontem, e diz que foi acusado por delito de opinião. "Foi por causa de um artigo que escrevi e dos meus sumários", sustenta. Quando a comissão de gestão - órgão nomeado pela reitoria e que dirige a escola desde que, há quatro anos, foi pedida uma sindicância - tomou posse, decidiu controlar a assiduidade dos professores, através da assinatura dos sumários. Troufa Real utilizou-os "para protestar" contra decisões da direcção da escola, mas também contra a reitoria. O reitor, Lopes da Silva, prefere não se manifestar sobre a pena enquanto o catedrático não for notificado, mas refere que nenhum processo foi instaurado por ataques pessoais a si dirigidos.Por outro lado, a acusação de acumulação de funções é prontamente contestada pelo catedrático - "um dos mais antigos da faculdade", sublinha. "A Moderna não tem nada a ver com isto, nunca estive em exclusividade senão quando fui presidente do conselho directivo da faculdade [de Arquitectura]", declara. De resto, Troufa Real considera importante os professores serem arquitectos com obra feita e puxa dos galões: existe um prémio com o seu nome que de dois em dois anos é atribuído ao melhor aluno de Arquitectura.Troufa Real discorda da pena e prepara-se não só para recorrer como para entregar queixa na Polícia Judiciária e ao Ministério das Finanças, a pedir uma inspecção às contas da UTL. "O reitor abusa do poder de autonomia e estão a ser feitas grandes burlas", acusa o docente. Lopes da Silva responde que as contas da reitoria são investigadas por auditorias e pelo Tribunal de Contas.No ano passado, Troufa Real, Francisco Gentil Berger - que também está a cumprir uma pena de suspensão por dois anos - e mais duas dezenas de professores entraram com uma acção no Tribunal Administrativo para contestar o facto de a escola estar a ser gerida por uma comissão de gestão há cerca de quatro anos e não serem feitas eleições. Mais tarde, voltaram à carga com uma providência cautelar para limitar a actuação de órgãos nomeados pelo reitor - as comissões de gestão, para os assuntos pedagógicos e científicos, que os docentes consideram ser ilegais. A providência cautelar foi julgada e os professores perderam na primeira instância e no recurso. Troufa Real justifica que o reitor "conseguiu manipular com mentiras, dizendo que só estava a fazer a gestão corrente" da escola. A acção no Tribunal Administrativo ainda está a decorrer.Lopes da Silva argumenta que, ao longo destes anos, tem mantido "medidos excepcionais" na gestão da Faculdade de Arquitectura de Lisboa, devido ao processo de sindicância que foi pedido pela própria escola ainda no tempo do seu antecessor, Simões Lopes, ao então ministro Marçal Grilo. As conclusões da sindicância teciam "duras críticas ao funcionamento dos órgãos e dos departamentos", continua o reitor. Por isso, Lopes da Silva nomeou as novas comissões, que estão a trabalhar em diversas áreas. "Dei indicação que nisto tudo se fizessem intervir todos os membros da faculdade. Mesmo aqueles que tinham processos disciplinares a decorrer foram convidados para fazer parte de grupos de trabalho", reforça. O reitor está satisfeito com o trabalho feito na faculdade e acredita que estão a ser dados "passos importantes e seguros" para o normal funcionamento da instituição. Só depois de concluídos os inquéritos e processos disciplinares é que Lopes da Silva considera estarem reunidas condições para iniciar os processos de eleições para todos os órgãos. "Tenho esperança que seja ainda este ano", conclui. Falta apenas saber as conclusões do processo de Tomás Taveira, que esteve suspenso dois anos mas que entretanto voltou à escola, onde está a trabalhar na revisão curricular dos cursos.

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